segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

À Descoberta de Beira Grande (3/3)

Continuação de: À Descoberta de Beira Grande (2/3)
Externamente a Igreja Matriz apresenta algumas curiosidades: nas traseiras há uma pedra com uma inscrição onde se pode ver gravado o ano de 1565. A igreja é muito posterior a essa data! Contudo, a primeira igreja, românica, deve ter sido anterior a essa data. Assim, a data assinalada pode corresponder a uma das ampliações, coisa que também aconteceu no Séc. XVIII que deu origem à atual igreja. Fica o enigma.
No alçado virado a norte há mais curiosidades na cornija: uma figura feminina deitada, um esticador de cordame das naus e uma cabaça. A cultura popular atribui à imagem feminina a representação de uma mulher bêbada, chamando-lhe “Borrachona” (tendo junto dela a cabaça e um pipo de vinho). Esta interpretação está ligada à produção marcadamente vinícola da aldeia. A figura feminina também personifica a Beira Grande. Outra possibilidade, e tendo em conta a proximidade com um antigo caminho de S. Tiago, é a de representarem alojamento e apoio. Estas podem ser as únicas pedras que restam da primitiva capela. A “Borrachona” não faz parte dos símbolos oficiais da freguesia, mas é, sem dúvida o ícone mais caraterístico de Beira Grande.
A pedra da igreja é de boa qualidade e está perfeitamente aparelhada. A fachada principal termina em empena truncada por sineira de dois sinos, não havendo mais elementos a destacar, nem mesmo pináculos!
O interior da igreja está em muito bom estado. O chão, o teto, as paredes e a talha dos altares estão impecáveis. O altar da capela-mor é mais interessante do que os dois laterais no corpo da igreja. São todos de estilos diferentes. Há um conjunto de imagens bastante antigas. Nossa Senhora da Luz e o Senhor dos Passos são as que mais me impressionaram. As Memórias Paroquiais de 1758 falam da existência de uma ermida, de Nossa Senhora da Cunha. Documentos mais recentes referem a Ermida de Nossa Senhora da Costa, mas penso tratar-se da ermida que pertence a Seixo de Ansiães e, portanto, não vou falar dela. Curiosamente uma busca no Sistema de Informação do Património Arquitetónico (SIPA) descreve a ermida como situada em Beira Grande!
Para quem quiser conhecer a totalidade da aldeia pode ainda fazer uma incursão na Rua do Cemitério. Além do cemitério, igual a tantos outros, pode apreciar as mais vistosas vivendas da aldeia. Na Rua do Pereiro estão situados os tanques públicos, já com pouca utilização. Do final desta rua, subindo um pouco a encosta em direção ao monte, tem-se uma vista panorâmica diferente da aldeia.


Para terminar a visita a Beira Grande é aconselhável um passeio até ao Douro. A estrada que segue até às quintas (Quintas dos Canais e Quinta do Comparado), tem continuidade até à Senhora da Ribeira, permitindo subir, daí, até ao Seixo de Ansiães. É um bonito passeio, embora a estrada seja estreita e assustadora nalguns pontos. Mas obrigatória mesmo é a visita ao miradouro do Lugar da Seara, que integra a Rota do Douro. Deste ponto se podem admirar as águas do Douro, os vinhedos de muitas quintas em redor, a linha do comboio do Douro que atravessa do rio na Ponte de Ferradosa e um conjunto de aldeias ma margem sul.
Depois de saciado o peito com tanta beleza há duas alternativas: subir de novo em direção a Beira Grande, ou descer, atravessar as quintas, conhecer a Senhora da Ribeira, ou mesmo Coleja. O importante é não perder o entusiasmo de continuar À Descoberta do concelho.

À Descoberta de Beira Grande (1/3)
À Descoberta de Beira Grande (2/3)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

À Descoberta de Beira Grande (2/3)

Continuação de: À Descoberta de Beira Grande (1/3)
O património construído não tem elementos de vulto, mas não deixa de ser interessante percorrer as ruas mais antigas, com muitas casas de um piso só, onde se podem ver alguns postigos e janelas com dintel em arco. Há também alguns patins e varandas tradicionais. As casas mais antigas estão em ruínas, algumas já caíram. Não tinham condições, eram pequenas, muito juntas e com acessos complicados. Os poucos habitantes que restam optam por construir noutro local, com mais espaço. Não deixa de haver, no entanto bons exemplos de recuperação de antigas habitações principalmente daquelas de famílias mais abastadas, pela zona da Portela.
Mesmo com poucos habitantes e com casas degradadas, Beira Grande é um excelente exemplo, no que toca à pavimentação, à limpeza das ruas e na indicação do nome das mesmas, com placas em granito, em quantidade e esteticamente enquadradas. A opção de manter os nomes tradicionais também é positiva.
Da frente da igreja parte a Travessa do Rossio. As casas são bem pitorescas podendo observar-se uma tradicional varanda em madeira, suportada por colunas em granito. Aqui se situa o principal aglomerado de casas, constituído pela Rua das Cangas, Rua de S. Sebastião e um emaranhado de ruelas. Na Rua de S. Sebastião há um cruzeiro em granito. É frequente haver jardim junto das casas, em plena rua, um pouco por toda a aldeia.
Pela Rua do Outeiro chega-se ao fundo do povo, havendo ainda algumas casas mais afastadas. A Rua da Fontinha leva a outro grupo de casas bastante antigas, o Arrabalde. Já aqui mora pouca gente, mas também há algumas casas recentes.
Pouco depois encontra-se o edifício da Junta de Freguesia. Foi a primeira escola (a segunda foi construída em 1967). Este edifício, de 1930, foi comprado pela Junta, restaurado e hoje tem um conjunto de valências ao serviço da população. Além do gabinete da Junta de Freguesia tem um salão, uma cozinha, casas de banho e gabinetes destinados a diversas atividades. A Junta de Freguesia fornece Internet gratuita à toda a população, tendo instaladas duas antenas, uma neste edifício, outra no edifício da escola mais recente, na Rua da Costa.
São frequentes os convívios, provas em BTT, passeios pedestres e jogos tradicionais. A população esforça-se por manter a aldeia vida e por usufruir da companhia e da tranquilidade de viver num ambiente assim. A aldeia tem uma associação cultural, desportiva e recreativa.
A Rua do Cabeço leva à estrada. No encontro das duas está uma imagem do Cristo Rei, num espaço ajardinado; um dos pontos de vaidade da aldeia. Não muito distante daí, em direção ao Douro, na Rua da Lameirinha, pode matar-se a sede num chafariz recente (de 2000), alimentado pela água de uma nascente. No lado oposto da rua há um nicho com a imagem de S. António, o padroeiro de Beira Grande. Este é um lugar com jardim, agradável para repousar um pouco enquanto se admira a paisagem em direção a Lavandeira, avistando-se também as ruinas do castelo de Ansiães.
Para norte volta-se ao centro da aldeia. Pelo caminho encontram-se mais uma fonte antiga, muito rústica, embutida numa parede, tendo ao lado um cruzeiro. Em tempos houve mais um cruzeiro na Rua do Giraldo, próximo da igreja, mas foi destruído. Antes de chegar à igreja há, à direita, dois pontos de interesse: na Rua da Costa situa-se o edifício mais recente da escola de Primeiro Ciclo, também ele já sem utilidade como escola. Tem sido objeto de obras de manutenção e restauro tendo em vista a sua utilização futura. Um pouco mais à frente, também à direita, fica o Largo da Mina e a capela de S. António.
A capela é um edifício recente, com muito pouco de capela, quase não se identificando como tal. Ao seu lado esquerdo está o acesso à mina que deu o nome ao largo. Encontra-se tapado com um alçapão em chapa, devidamente trancado a cadeado. Em tempos as crianças deliciavam-se a entrar na mina.
Próximo está o coreto. Da sua varanda vê-se, sobretudo, o teto da igreja cheio de painéis solares. Pode ser um bom negócio, mas não é muito frequente ver uma igreja com painéis fotovoltaicos. Embora a estética não agrade a todos, não ouvi grande argumentações contra. Sob o coreto funciona um pequeno bar da Comissão de Festas. Numa aldeia pequena e despovoada é difícil angariar dinheiro para a realização das festas. A Festa de S. António acontece a 13 de Junho, anualmente, mas a festa “grande” só se realiza a cada 2 anos, no 3.º Domingo de Agosto (também a S. António).

Continua em: À Descoberta de Beira Grande (1/3)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

À Descoberta de Beira Grande (1/3)

 Beira Grande pertence ao grupo de aldeias do concelho de Carrazeda de Ansiães que menos conheço. Apesar de distar apenas 10 quilómetros da sede de concelho, não passa pela aldeia nenhuma das vias de comunicação principais, pelo que só vai a Beira Grande, quem tem mesmo que ir. Encaixada entre o termo das freguesias de Lavandeira e Seixo de Ansiães, faz ainda fronteira com Selores, mas é ao Douro que todos os caminhos conduzem e onde os ribeiros, outrora povoados de moinhos, vão morrer.
Trata-se de uma freguesia essencialmente agrícola, com produção de batata, laranja e azeite mas sobretudo vinho, beneficiando das caraterísticas edafoclimáticas do Alto Douro Vinhateiro para a produção de um vinho único. Aqui não se produz só o tão afamado vinho fino, mas também vinho de mesa, sendo comercializadas pelo menos duas marcas com Denominação de Origem Controlada, a Fonte das Vinhas e a Grambeira.
Em termos históricos a freguesia esteve sempre ligada à vila amuralhada de Ansiães, tendo depois uma ligação muito curta à freguesia de Seixo de Ansiães. Também teve ligação à paróquia se S. Gregório, de Selores, mas no Séc. XVI já se assumia como paróquia autónoma.
Existe no termo de Beira Grande um sítio arqueológico, de nome S. Pedro, que atesta a presença humana desde a Idade Média, mas, se pensarmos que as gravuras do Cachão da Rapa não estão muito distantes, facilmente se aceita que o homem sempre por aqui andou.
O povoado fortificado de S. Pedro, situado nas margens do ribeiro do Cíbio, não muito distante do marco geodésico do Seixo dos Corvos, proporcionava, só pela sua localização, uma excelente defesa natural, mas aliada à possível existência de linhas de muralha fariam do lugar um espaço seguro.
 O acesso ao local é feito pela Estrada Municipal que liga Beira Grande ao Douro, percorrendo exatamente dois quilómetros partindo do centro de Beira Grande (Junto à Igreja Matriz). A abertura desta estrada, que corta o sítio a meio, pode ter ajudado à destruição de elementos importantes para o estudo do local.
Apesar dos habitantes falarem de vestígios visíveis da igreja, do cemitério e de um conjunto de casas, não é fácil encontra-los, quanto mais assegurar com alguma certeza do que se trata. Parte do sítio foi usada para a agricultura até a atualidade, sendo as pedras das possíveis muralhas e habitações deslocadas para a construção de muretes de pedra. A estrutura que dizem ser as paredes da igreja está numa zona de forte declive, e estaria, provavelmente, fora das muralhas. Seria o cemitério? Seria um apiário?
No sítio de S. Pedro foram encontrados fragmentos de cerâmica e de moventes de mós, que ajudaram a determinar a sua cronologia como sendo da Idade Média.
Não muito distante deste sítio há um grande cruzeiro em granito, conhecido como cruzeiro da Fonte Santa. Diz a lenda que no local existiu uma fonte de água com poderes milagrosos, à qual acorriam pessoas vindas de longe, atacadas por todo o tipo de maleitas. A fonte secou após um lavrador ter lavado nela as feridas de um burro.
Garantiram-me ter existido outro cruzeiro, anterior a este, a curta distância. A toponímia Cruz Velha parece confirmá-lo. Ao fundo da encosta, voltada a nascente, do sítio de S. Pedro, sempre existiu uma fonte de onde brotava água em abundância. Na reparação do caminho uma giratória destruiu a fonte e abriu um poço. Apesar do ano estar a ser anormalmente seco o poço está cheio e a água, que escorre para o exterior. A água pode não ser santa, mas é muita e pura.
A aldeia é atravessada por uma estrada que desce do Seixo de Ansiães e vai morrer junto do Douro, depois de ter percorrido uma das mais belas paisagens do concelho. A dar as boas vindas ao visitante e assinalar o termo do Seixo e o início do da Beira Grande está uma placa em granito. Sem esta placa quase não se dá conta onde termina uma aldeia e onde começa a outra! Isto porque, tal como em muitas outras localidades, as pessoas foram abandonando os núcleos mais antigos do povoado e foram construindo casas, em moldes diferentes, noutros espaços, como a Rua da Costa, a Rua do Cemitério ou a Rua do Geraldo, a da entrada. Para dar um passeio pela aldeia, o Largo de S. António, junto à igreja é o lugar ideal para estacionar.
Continua em: À Descoberta de Beira Grande (2/3)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Pombal

Pintura (ou quase) da bonita aldeia de Pombal.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Cores de Outono (III)

 Castanheiros em Mogo de Malta e Zedes.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Cores de Outono (II)




Fotografias tiradas no Parque Verde de Carrazeda de Ansiães, junto à barragem de Fontelonga.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Cogumelos

Ainda não apanhei muitos, mas para a fotografia já chegaram. Apanhei várias rocos, em Zedes, na semana passada. Em breve vai haver cogumelos em quantidade.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Cores de Outono




Fotografias tiradas no Parque Verde de Carrazeda de Ansiães,junto à barragem de Fontelonga.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Rota da Maçã

A Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães e a Junta de Freguesia de Marzagão organizaram no dia 14 de Outubro uma caminhada de 10,5 km, denominada Rota da Maçã.
Com o ritmo de caminhadas iniciadas na Primavera e continuadas no Verão, é quase certo que todas as iniciativas deste género conseguem mobilizar um bom número de participantes e esta não foi exceção.
 Pensada desde alguns meses atrás para coincidir com a época da maçã, esta caminhada teve como atrativo exatamente a maçã, uma das principais produções agrícolas do concelho. Os pomares de macieiras encontram-se espalhados por todas as freguesias do planalto do concelho e, por isso, não seria difícil escolher um trajeto que levasse os participantes de encontro aos pomares.
Não percebi o cartaz e pensei que a caminhada teria início em Marzagão, por isso estava na aldeia à hora de início. Só mais tarde percebi que o início estava previsto para Carrazeda de Ansiães, para onde me desloquei o mais rápido de pude. Já não apanhei o início da caminhada, mas juntei-me ao grupo ainda em Carrazeda, perto da capela de Nossa Senhora de Fátima.
 O dia estava cinzento, algo frio e a ameaçar com chuva a qualquer momento. Estas condições pouco favoráveis não assustaram os caminheiros, que apareceram em força, ainda em maior número. A maior parte das pessoas são habitues das caminhadas, mas alguns rostos vi-os pela primeira vez (também não tenho conseguido participar em todas as caminhadas).
 O grupo desfez-se logo de início e nunca mais se juntou. Confesso que gosto mais quando o grupo se mantêm coeso, a pouca distância uns dos outros. Além de permitir conversar com muita gente, afinal já somos "companheiros" de muitos caminhos, também me proporciona oportunidades fotográficas únicas com a presença das pessoas, porque para fotografar as paisagens é muito melhor fazer o percurso sozinho, sem pressas para chegar.
Na antiga escola de 1.ºciclo de Luzelos foi servido o reforço. Nestas instalações funciona a Associação Cultural, Recreativa e Desportiva de Luzelos. Cheguei ao local acompanhado de um pequeno grupo de pessoas que mal parou! Segui caminho tentando não perder de vista outros participantes, o que veio a acontecer pouco depois de atravessar a estrada N214. Vi algumas pessoas junto de uma carrinha a alguns metros do caminho, mas não percebi a razão, afinal era outro local de reforço!
 A partir desse ponto segui sozinho até Marzagão! O percurso percorreu pomares de macieiras em Carrazeda, Luzelos, Arnal, Parambos e Marzagão. Já havia poucas maçãs nas árvores. Em contrapartida ainda se viam algumas uvas bem apetitosas nas parreiras.
Houve um momento que cheguei a duvidar se estaria no percurso certo, mas quando cheguei a Arnal tive a certeza que sim. Felizmente não tinha visto nem ouvido nenhuma notícia sobre o que se tem passado nesta aldeia, caso contrário não teria circulado com tanta tranquilidade.

A capela de Arnal estava aberta. Foi uma boa ideia, porque ficava no percurso e assim todos podemos visitá-la. Foi a primeira vez que entrei naqueles espaço e gostei bastante.
Continuei o caminho sozinho. Entre Arnal e Marzagão o percurso atravessou o ponto mais negro, precisamente uma área ardida! o cenário deplorável, com pinhal (e vinha) ardido. Depois vieram os pomares, grandes, que devem oferecer um belo cenário quando estão floridos ou carregados de frutos.
Um pouco mais à frente está um dos principais monumentos de Marzagão, a Ponte do Galego.

Trata-se de uma ponte muito antiga, em pedra, com altura superior ao nível da estrada, motivo pela qual tem rampas de acesso ao tabuleiro. Por baixo deste figuram dois arcos de volta perfeita. Já foi alvo de reformas no século XX.
Na aldeia ainda tive tempo para uma visita a algumas ruas e à igreja, monumento obrigatório para quem vai a Marzagão.
No bar da Comissão de Festas já se preparavam as coisas para o almoço. A julgar pelos preparativos deve ter uma boa confraternização, pelo repasto e pela companhia. Não fiquei para a refeição, tinha outros compromissos que me obrigaram a abandonar o grupo "no melhor da festa".

terça-feira, 16 de outubro de 2012

1 Dia por terras de Ansiães (8)

 Já há bastante tempo que não reservava um dia inteiro para passar a percorrer o concelho, por isso foi com bastante entusiasmo que no dia 5 cheguei a Carrazeda. Tenho sempre um destino em mente, mas os planos vão-se alterando ao sabor da Descoberta, com acontecimentos banais como o chuva, a fome, o cansaço ou a disponibilidade das pessoas que encontro.
O destino centrava-se em Beira Grande, mas a sessão fotográfica começou logo na Junta de Freguesia de Carrazeda de Ansiães, onde fiz a primeira paragem.
Rumei para Beira Grande. O dia estava frio, com algumas nuvens mas prometia boas condições para a fotografia. A aldeia é pequena e pouco povoada. Optei por continuar em direção ao Douro no intuito de investigar um pouco sobre o rumores que tinha ouvido sobre a existência de um povoado antigo, que pode ter sido a aldeia que antecedeu a atual Beira Grande. Conhecia vagamente o local e como fica situado junto da estrada não me foi difícil encontrá-lo.
Procurei as evidências de que me tinham falado: alicerces de casas, da igreja e do cemitério. A quantidade de pedras soltas é enorme e encontram-se alinhadas formando paredes algumas com mais de um metro de largura. É possível que aqui tenha existido um povoado fortificado mas o local foi utilizado para a agricultura até à atualidade, sendo difícil saber o que remonta à idade média e o que é resultado da adaptação dos terrenos para a agricultura.  Está garantido que no local existiu um povoado, o IGESPAR já o visitou várias vezes. É conhecido pelo nome de S. Pedro.
 Procurei também os vestígios da chamada Fonte Santa, a alguma distância do antigo povoado e a uma quota bastante inferior. A antiga fonte deu lugar a um poço, aberto por uma giratória e tem bastante água. A designação Fonte Santa parece ser atribuída a várias fontes, todas nas imediações. Um cruzeiro granítico na berma da estrada ajuda a sinalizar o local.
Do topo do cume onde existiu o povoado já se avista o rio Douro, mas, para poente, é visível um marco geodésico a alguma distância, que despertou a minha curiosidade.
O marco geodésico do Seixo dos Corvos eleva-se a 552 metros de altitude. Apesar de estar a uma quota inferior à de outro marco geodésico existente no termo de Beira Grande, o do Arejadouro, a quase 700 metros de altitude, a sua localização mais próxima da bacia do Douro permite avistar uma paisagem indescritível, que só ao longo do Douro se pode admirar. Mas para norte, a paisagem também é bela, embora agreste, agora totalmente ao abandono e devastada por incêndios. No fundo do vale corre o ribeiro do Síbio, ainda completamente seco, que tem origem em Seixo de Manhoses e passa junto à aldeia de Beira Grande.  As encostas rochosas são ciclópicas e atingem os 750 metros de altitude  no seguimento da encosta onde se encontra a Lavandeira.
Também muito interessante é um pico rochoso, quartezítico, que se destaca na paisagem e que dá o nome ao local, o Seixo dos Corvos.
No intuito de avistar melhor a ponte ferroviária da Ferradosa, local onde o a linha do comboio atravessa o Douro, continuei pela crista na montanha mais para jusante, até que o relevo acidentado não me deixou progredir. E foi com uma paisagem privilegiada à minha frente que me sentei numa fraga a saborear o almoço que levava na mochila que carregava às costas.
Saciado o estômago e a alma, regressei à estrada e desci ao Miradouro que integra a Rota do Douro. O local é agradável e a paisagem bucólica, mas depois do que eu avistei lá do alto, já não me mereceu tanta demora.
Dividi-me entre a vontade de continuar a descer e percorrer as quintas do Douro até chegar a Ribeirinha, ou voltar para trás, para a aldeia de Beira Grande. Como pretendia fazer um longo passeio pela aldeia, voltei para trás.
Como disse inicialmente a aldeia de Beira Grande é pouco povoada. As ruas mais antigas poucos moradores têm e há mesmo becos abandonados há décadas. As pessoas e casas deslocaram-se para junto da estrada com nome Avenida Principal, mas também para a Rua do Cemitério ou Rua da Costa. Percorri as zonas mais antigas (é uma tendência minha ir sempre para as partes mais velhas!). Não encontrei viva alma e ainda bem, porque às vezes não é fácil explicar o que que se faz a espreitar em todos os becos e vielas.
Há muitas casas em ruínas, grande parte delas térreas, com uma interessante utilização do granito. Não há casas brasonadas ou outras que se destaquem pela sua imponência.  Há algumas antigas, recuperadas com gosto e também algumas vivendas novas, onde não se pode espreitar sob penas de sermos filmados. A antiga escola primária, a primeira (porque houve uma segunda da década de 60), recuperada e adaptada para a Junta de Freguesia, é um dos edifícios mais interessantes.
 A mesma estrada (N632-3) toma diferentes nomes ao longo da aldeia: começa por ser Rua da Lameirinha, depois Rua da Portela, Rua do Geraldo e Avenida Principal! Visitei a Rua da Costa, a Rua do Cemitério e a Rua do Pereiro, nestas últimas duas estive pela primeira vez. O percurso terminou no Largo de Santo António junto à Igreja Matriz. Externamente o templo tem poucos elementos arquitetónicos de relevo, destacando-se os painéis solares no telhado e, na cornija do alçado lateral direito uma pequena figura humana a que chamam borrachona, de que falarei noutra altura. A igreja estava fechada, bem como a capela ali próxima. Reposei um pouco no coreto da Rua da Mina.
Ouvi vozes e dirigi-me para lá. Dois habitantes locais descascavam amêndoa e aproveitei para meter conversa. Ganhei algumas informações e um copo de tinto. Como a tarde já ia adiantada parti.
Para saber informações sobre a caminhada da Rota das Maçãs ainda fiz uma incursão a Marzagão. O dia tinha sido de vindima e tentavam meter todas as uvas no lagar, tarefa que não foi superada (mesmo com menos um saco delas, que me foi oferecido).
No bar ao lado já bebiam uns copos e descansavam da azáfama do dia.
A noite chegou e com ela terminou mais um dia À Descoberta por terras de Ansiães. Foi um dia sobretudo de silêncio, de comunhão com a paisagem; de austero granito e de afável receção, por parte das poucas pessoas com quem falei. É destas coisas que Ansiães é feita.