quarta-feira, 29 de agosto de 2012

À Descoberta de Lavandeira (3/3)

Antiga Escola Primária de Lavandeira
Continuação de: À Descoberta de Lavandeira (2/3) 
A escola de 1.ºCiclo está fechada. Longe vão os tempos em que a D. Margarida era a professora da aldeia! Natural de Selores, casou em Lavandeira e tinha a seu cargo uma catrefada de crianças. Chegou a haver mais de 60 crianças a frequentar a escola que funcionou ao lado da Casa dos Milagres.
Altar da capela-mor com Dívino Rei Salvador
Da escola pode fazer-se um percurso pela rua do Outão, rua do Jardim, rua Principal e rua do Adro, regressando à igreja.  Ao longo de todas estas ruas há pequenos espaços de autênticos jardins. Algumas casas foram recuperadas e outras esperam por melhores dias, é o caso de um antigo lagar de azeite que a Junta de Freguesia gostaria de restaurar, abrindo ali um espaço com múltiplas aplicações. Infelizmente os apoios não abundam.
Tampa de um sarcófago. Agora está junta à sede da Junta de Freguesia.
Em 2011 havia algumas tampas de sarcófagos junto ao cemitério, mas foram retiradas do local. O mesmo aconteceu a dois enormes cedros que se encontravam à frente da igreja matriz que foram cortados.
Chegados de novo ao largo e depois de percorrer grande parte da aldeia, ficou para o fim o património de maior destaque, a igreja de S. Salvador ou de Santa Eufémia. Esta designação leva a refletir na história do local e no porquê de não estar definida uma designação consensual.
Nicho no frontispício da igreja
Lavandeira foi  até ao Séc. XVII um mero lugar da freguesia de Ansiães, paróquia de S. Salvador. Com a decadência do castelo, Lavandeira foi crescendo. Os batizados continuaram a fazer-se na velha igreja românica até 1803, altura em que a paróquia se transferiu para a capela de Santa Eufémia, em Lavandeira. Esta mudança ditou a morte gradual da igreja de S. Salvador, intramuros e ao desenvolvimento da paróquia da Lavandeira, que conduziu à ampliação da pequena capela românica que deveria existir. O culto a Santa Eufémia já existia desde o séc. XVI, fomentado pela existência de algumas relíquias que mobilizavam romeiros, mesmo lugares longínquos.
Imagem de Santa Eufémia no andor, pronto para a grande festa
Por cima da porta lateral da igreja há um brasão em granito que deve ter sido arrancado da igreja de S. Salvador, no castelo, para depois ser ali aplicado, já numa fase posterior à construção da igreja. No alçado oposto há uma representação, penso que de um anjo, a que dão o nome de Lavandeira, personificando a aldeia.
O cabido exterior, com as suas belas colunas em granito começou a ser construído em 1773. No frontispício da igreja há um bonito nicho com motivos florais onde deveria estar a imagem de Santa Eufémia, mas, curiosamente, o espaço está preenchido com uma imagem de S. António.
Santa Eufémia ladeada pelas suas irmãs
Dada a importância do culto a Santa Eufémia a igreja manteve sempre a dupla designação, de Santa Eufémia e de S. Salvador, que recebeu por transferência da paróquia histórica do castelo de Ansiães.
Entrar na igreja é um privilégio. A beleza do seu interior pesou na escolha desta capela para rodar algumas cenas de da telenovela que passou na TVI, chamada “A Outra”.
Cabido exterior da igreja
Os elementos que se destacam em primeiro lugar são os altares com retábulo dourado apresentando parras, uvas e “putti” (crianças nuas, quase sempre do sexo masculino, frequentemente com asas).  No centro do altar da capela-mor está uma bonita imagem do Divino S. Salvador, o mesmo Deus Criador que está representado num fresco à entrada da igreja, na parede do lado direito, com o pé sobre uma esfera onde estão representados Adão e Eva.
Representação da "Lavandeira"
A imagem de Santa Eufémia ocupa uma posição lateral, num altar próprio e distinto dos restantes. Acompanham a imagem dois enormes leões, elemento identificativo de iconografia de Santa Eufémia que morreu mártir em Calcedónia, atual Croácia. Curiosamente nenhum dos ex-votos existentes na Casa dos Milagres apresenta este elemento. As imagens mais antigas da igreja representam Santa Eufémia (de Braga/Orense). Para adensar a dúvida Santa Eufémia está representada num dos caixotões do teto da igreja, em companhia das suas 8 irmãs, sendo Santa Marinha e Santa Quitéria as mais conhecidas. Ora, esta representação é da Santa Eufémia “portuguesa/espanhola” e não a da Calcedónia.
Árvore de Jessé, no teto da igreja.
 Há outra representação que valoriza esta igreja e que também se encontra nos caixotões do teto, mas da capela-mor: trata-se da representação da Árvore de Jessé, que representa a genealogia de Jesus. São muitos os motivos de interesse que existem na igreja, e também na sacristia, com imagens antigas e com a sua pintura rococó.
Pantocrator do Juízo Final na capela de S. Salvador, no castelo de Ansiães
Como a prosa já vai extensa, fica por fazer uma caminhada e uma visita ao castelo de Ansiães, onde a história está em cada pedra. Fica por contar a mistura do sagrado e do profano da festa de Santa Eufémia a 15 e 16 de setembro. Mas há coisas de não podem ser contadas, têm que ser vividas. Por isso, deixo o convite para nos encontrarmos na festa de Santa Eufémia, na Lavandeira, em Setembro próximo.
Aníbal Gonçalves
Artigo publicado no jornal O Pombal, em Março de 2012.

1 comentário:

Anónimo disse...

Através da fotos e da descrição que faz do que vai observando quase consigo acompanhá-lo pelas ruas e canelhas da minha aldeia.
No meu tempo de criança tínhamos como tarefa, aos sábados, de tarde, varrer a rua. Cada família fazia a sua parte.
Obrigada pela forma como dá a conhecer o que o nosso concelho tem de bonito.
Lavandisca