Continuação de: - À Descoberta de Pinhal do Norte (1/3)
Junto da capela de S. Bartolomeu existiu outrora um tronco para ferrar animais. Já não resta nada dele, mas no mesmo espaço existe um coberto onde o ferrador da terra, Francisco Cardoso, ainda exerce o seu ofício. Este ferrador, descendente de pai e avô também ferradores, por vezes ainda acende a sua forja onde os seus antepassados aqueceram o ferro para moldar ferraduras e canelos. Maneja o martelo com grande mestria e mostra um evidente orgulho na sua profissão.
A rua de S. Bartolomeu apresenta um aspeto já pouco usual nos dias de hoje. Está pavimentada com lajes de granito, o que lhe confere um aspeto rústico de calçada medieval. A igreja matriz está a poucos passos de distância.
Trata-se de uma construção do século XVIII (com o aspeto que tem hoje), mas deve ter existido uma anterior, uma vez que Pinhal do Norte se tornou uma paróquia autónoma no séc. XVI, depois de estar ligada durante pouco tempo a Pombal. No frontispício não há grandes elementos que chamem à atenção. Para além da torre sineira central, com dois sinos, há um bonito óculo em granito que se destaca. Na padieira da porta pode ler-se ANO DE 17. Penso que nada se apagou nesta inscrição, o que me leva a questionar o porquê de apenas constarem dois algarismos, que devem querer indicar 1700. Os pináculos são muito singelos e os elementos em granito mais trabalhados estão em ambos os lados do portão que dá acesso ao adro.
No lado direito da igreja, de orago de Nossa Senhora das Neves (tal como Belver), está a casa dos milagres com data de 1859. No seu interior há várias imagens de entre as quais destaco Nossa Senhora das Dores e o Senhor dos Passos. A imagem de Nosso Senhor dos Passos tem dois pares de membros! Na procissão de sexta-feira Santa vai de joelhos e na de domingo vai de pé (depois de lhe serem trocados os braços e as pernas). Esta característica faz com que exista no Pinhal um dito bastante curioso “vai ao Sr. dos Passos que te empreste as pernas”.
Na parede deste espaço há três ex-votos, todos referentes a um milagre ocorrido no rio Tua, perto de Brunheda, em 1856.
Vale a pena entrar na igreja. O templo não é muito grande mas é de uma rusticidade e beleza impressionantes. As paredes são em granito rústico; o teto apresenta pinturas, grande parte dele com caixotões representando Santos; o chão está como há muitas décadas atrás; os altares são em talha dourada, belos e muito bem preservados. Acredito que manter a igreja assim não agrade a todos. Seria fácil aplicar azulejos e colocar um chão novo, mais vistoso, mas, sinceramente, acho que está melhor assim.
No exterior há dois túmulos em granito que se pensa serem de uma família de nome Martins.
Depois de uma visita à igreja é tempo de subir o que resta da rua de S. Bartolomeu. Um olhar à retaguarda permite uma das mais características vistas do Pinhal. Para a direita fica a rua da Travessa, onde podemos beber de uma fonte onde a água não tem “produto”, porque vem diretamente de uma fonte mais antiga situada alguns metros mais acima.
Continuando pela rua do Castelo (antiga rua Dr. Francisco Manuel) podem ser apreciadas algumas construções antigas, como uma adega, com lagar, que ostenta na padieira da porta a seguinte inscrição MDCCCVI. Se for tempo de vindima sentiremos o cheiro a mosto e assistiremos ao esmagar das uvas em grandes lagares.
Percorrer a rua até ao final conduziria ao extremo da aldeia, por isso o percurso deve fletir à direita, pela rua do Rossio. Não faltam exemplares das mais caraterísticas construções transmontanas, mas as ruínas da casa da sr. Ermelinda destacam-se pela altura das paredes em granito bem aparelhado, pelas mísulas nas janelas (ou no que delas resta). Há quem ainda se lembre de uma divisão da casa cheia de bichos-da-seda, quando a cultura destes insetos era uma prática corrente em quase todas as aldeias. Houve quem projetasse um lar de idosos para este espaço, mas tudo não passou de um sonho.
Continua em - À Descoberta de Pinhal do Norte (3/3)
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