Desde criança que Pinhal do Norte é para mim uma aldeia distante e a descobrir. Hoje está muito próxima, mas, quando em criança olhava a partir de Zedes em direção ao Pinhal do Norte, erguia-se a meus olhos uma elevação gigantesca, onde por vezes conseguia ver um marco geodésico (a mais de 820 metros de altitude). Naquela serra, (onde poucas vezes me aventurei a ir) abundavam as formações graníticas ciclópicas e profundos poços, abertos em tempos idos, em busca dos minérios da terra. A aldeia seria lá ao fundo, por detrás da serra, bem mais longe do que o que me era permitido explorar.
Foi com muito entusiasmo que visitei Pinhal do Norte, várias vezes, recentemente. Percorrer as ruas da aldeia foi sentir não corpo e na alma um conjunto de sensações que me fizeram viajar no tempo e sentir a própria existência de uma forma mais real, longe da pressa, do barulho, do efémero ou do falso. Aqui tudo é autêntico, principalmente as pessoas que gostam de conversar, de contar com alegria e alguma vaidade as histórias da sua terra e da sua infância.
Hoje é muito fácil chegar a Pinhal do Norte. Situado a 12 quilómetros da sede de concelho, é servido pela não muito antiga estrada que parte de Carrazeda de Ansiães em direção a Amedo, importante saída do concelho pela ponte sobre o rio Tua, na Brunheda. O traçado do IC5, ainda em obras, vai também beneficiar este pequeno povoado, uma vez que para aqui está projetado um nó de ligação a esta novíssima via de comunicação que vai atravessar todo o sul do distrito de Bragança.
Terra de bom vinho, mas também excelente para a produção de azeite, cereal e amêndoa registou muito cedo a fixação de pessoas, facto comprovável pela existência de vestígios de muralhas e restos de alguns povoados.
Uma visita à aldeia de Pinhal do Norte deve começar obrigatoriamente no largo do Terreiro. Um enorme plátano fornece a sombra necessária para se passar algum tempo a ver e a sentir o coração da aldeia. Aqui confluem, e daqui partem, as principais ruas. No largo está situada a capela de S. Bartolomeu. De linhas singelas e sem sino na sua torre sineira central, encerra no interior um altar em talha dourada com alguma beleza.
Situada neste lugar privilegiado da aldeia, presenciou e foi palco importante da sua história. Da pequena capela têm especial lembrança muitos que aqui aprenderam as primeiras letras, sob o olhar atento da D. Susana, natural da freguesia vizinha de Pombal. Não é frequente que uma capela seja usada como sala de aulas, mas aqui foi uma realidade.
Os que aqui aprenderam as letras, foram os mesmos que brincaram no Terreiro primitivo, onde a água corria e enlameava tudo, mas onde se brincava à bilharda, à roça, onde se conquistavam mundos imaginários com o perfurar certeiro de um espeto na terra lamacenta. Hoje o largo tem outro aspeto, melhor, muito melhor, mas já não se ouvem os risos das crianças.
A presença do coreto mostra que também aqui que se fazem as tradicionais festas de verão.
No largo existem duas fontes: um fontanário normalíssimo rodeado de um tanque para os animais beberem e uma espécie de fonte de mergulho, sem na realidade o ser, uma vez que a água vem entubada de bastante longe para ali correr livremente, sem torneira. Por cima dela há um curioso painel de azulejos que diz o seguinte: “As pessoas sentem-se sós porque constroem muros em vez de pontes. Unidos no amor construiremos um Pinhal novo”. A pedra de cantaria onde foi aplicado o painel ocupou outrora outra posição, em frente da fonte. Era usado para pousar os cântaros e canecos quando aqui vinham buscar água. A fonte que existe no largo de Brunheda (freguesia de Pinhal do Norte), também tem estas características.
Continua em - À Descoberta de Pinhal do Norte (2/3)
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