sábado, 11 de outubro de 2008
em Luzelos
A aldeia é pequena e como não é lugar de passagem, só nela entra quem tenha realmente intenção. Talvez por isso, os três idosos que conversavam de forma preguiçosa no largo, ao calor do sol, receberam-me com alguma surpresa. Não é todos os dias que parece algum “turista” interessado em conhecer becos e ruelas e capelas. Foram necessários poucos minutos para ficar com uma ideia daquilo que eles acham que vale a pena visitar. No entanto, repetiram de forma bem incisiva que Luzelos começa junto à Vila, sendo actualmente uma anexa de Marzagão, mas com muita população. Luzelos esteve desanexada de Marzagão entre o séc. XVII e o séc. XIX.
Logo à entrada de Luzelos está a escola primária, actualmente encerrada. Longe vão os tempos em que as crianças da aldeia, atravessavam lavouras e pinhais, até a ponte romana de Marzagão, para aí frequentarem a escola. Não raras vezes ficavam-se pela sombra dos pinheiros, a meio do caminho, saboreando o farnel que levavam para o almoço. A escola não era fácil, e os colegas de Marzagão também não os acolhiam de braços abertos.
Actualmente a escola já não tem crianças e os dedos de uma mão são mais do que as crianças que existem na aldeia.
Uma visita a Luzelos tem que começar pelo largo. Aqui as casas são antigas, modestas, feitas em granito, com escadas externas com alpendres e varandas, em pedra ou madeira. Encontram-se algumas mísulas nas janelas. Há um par de mísulas bem curiosas numa janela, têm uma face esculpida com bastante rigor.
Houve mesmo quem se prontificasse a mostrar-me alguma rocha curiosa, a adega ou o quintal! É que a surpresa da chegada deu lugar à confiança.
Segui pela Rua da Igreja, na esperança de que alguém me franqueasse a entrada, mas tal não foi possível. A igreja de Santo Amaro ainda está rodeada de campas, o pequeno adro foi durante muito tempo o único cemitério, mas actualmente existe já uma nova estrutura a poucas centenas de metros, para noroeste. A igreja foi construída desviada do núcleo habitacional, mas acabou por ser absorvida por ele, havendo vários bairros já depois dela.
O frontispício é bonito, possivelmente da igreja original do séc. XVI, ao contrário do corpo da igreja e capela-mor que sofreram possivelmente obras de ampliação. Dignos de realce no frontispício são a porta principal em arco-quebrado e o campanário de uma só sineira. Sobre o campanário há uma cruz de pedra com Cristo crucificando, numa forma bastante estilizada. O interior da igreja ficou para uma próxima visita.
O passeio estendeu-se até perto do cemitério. Ainda há algumas vinhas por vindimar. Contornei-as e fui entrar de novo na aldeia pela ponta do bairro mais afastado do centro. Aí abriu-se-me a adega, para provar um tinto muito agradável. O do ano passado, porque o deste ano fermenta ainda, prometendo muita qualidade.
De regresso ao centro, tropecei numa vala que percorre as ruas. Trata-se da colocação da estrutura de fibra óptica que vai dotar alguns dos concelhos do sul do distrito de uma rede de banda larga para internet ou televisão por cabo.
As sombras já cobriam a rua, quando cheguei ao automóvel. Os telhados das casas, sem sinais de vida, pintaram-se de cores quentes, de silêncio e paz.
Chegou o autocarro com os estudantes da vila e eu parti para o Amêdo, em busca de mais algumas imagens melancólicas.
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2 comentários:
Anibal obrigado.
Por a tua ida a minha terra e ainda logo a casa de meus tios , estou muito contente em ve-los. São pessoas muito queridas e amigas. Deixo-lhes cumprimentos saudosos de grande estima,
beijos e abraços
Simão Fernando Vieira Lima
Anibal tambem quero agradecer a tua ida a minha aldeia. E pela foto dos meus tios, Alexandre e Felisbina. Eu resido no Canada, mas os meus pais tem casa em Luzelos,apegada a do meu tio onde tu estiveste. Ja passaram 20 anos, mas nunca esquecerei a minha aldeia. Eu frequentei essa escola primaria, agora fechada, nesse tempo a minha aldeia nao era tao desabitada, mas sim cheia de alegria e de gente muita feliz e de bom coracao.
Espero anciosa pela proxima visita.
muitissimo obrigado
Maria Fernanda Dos Santos Neri
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