sexta-feira, 6 de agosto de 2010

À descoberta de Fontelonga (Parte 2/2)


Continuação de: À descoberta de Fontelonga (Parte 1/2)
A paragem seguinte foi na Escola Primária. É constituída por um edifício de rés-do-chão, com duas salas e um largo espaço cimentado, com algumas árvores gigantescas. Por detrás das salas de aulas há um edifício recente, em granito. Esteve para ser uma cantina escolar, mas é a sede da Junta de Freguesia, inaugurada em 1997. Um parque infantil, completa o conjunto. Gostava de ver o recreio cheio de crianças a brincar, mas, estou em crer que o silêncio pode chegar de vez. Do grupo de alunos que ainda frequentam esta escola, apenas dois são de Fontelonga. É bem possível que a escola encerre este ano, tal como tantas outras no Portugal interior, cada vez mais desertificado.
Continuei o meu percurso em direcção ao Fundo do Povo. As ruas por onde passei (não sei o nome) pareceram-me mais simpáticas do que as primeiras. Embora estreitas e com as casas pouco alinhadas, estão habitadas, cuidadas e cresce uma roseira em cada esquina. Penso ter passado por uma rua onde estive em garoto a ferrar uma burra, mas não tenho a certeza. O ferrador de Fontelonga morreu já há alguns anos. Agora o serviço é feito por um do Mogo, ou outro que vive em Marzagão.
A fonte de mergulho existente no Fundo do Povo, conhecida por Fonte Romana, é mais um elemento do património da freguesia. Há várias lendas sobre a origem do nome Fonte Longa e algumas relacionam-no com esta fonte. Pode não ter sido a fonte a dar o nome à aldeia, mas, água é o que não falta no termo de Fontelonga.
Local de encontros e de namoricos em tempos idos, a fonte está agora fechada, fornecendo água para os tanques públicos que ainda são bastante utilizados. Tanto os do Fundo do Povo como os que existem junto à fonte das Eiras, perto da cabine. São dois espaços bonitos, cheios de romantismo que devem trazer boas recordações a muitas pessoas. Também o edifício em ruínas por detrás da fonte de mergulho, do outro lado da rua, desperta recordações a muitas pessoas. Trata-se da antiga escola primária. Muitos dos idosos ainda se lembram dela. Tinha duas salas, uma para o sexo masculino e outra para o sexo feminino. Nem todos chegaram ao fim dos quatro anos de estudo, a vida era difícil. Era necessário ajudar a criar os irmãos, acompanhar o pai na lavoura, etc.
Deixei o Fundo do Povo e segui por uma rua plana em direcção a poente. Algumas inscrições nos pórticos das casas indicam que esta deve ser uma das zonas mais antigas da aldeia. Já não há carpinteiros, tecedeiras, lagares de azeite ou tabernas. Atrás de cada porta há décadas de histórias que se vão apagando pouco a pouco.
Pouco depois cheguei à rua Padre Fernando Antonione da Silva Ribeiro. A placa, quase ainda a cheirar a cola fresca, relembra a homenagem recentemente prestada à pessoa em questão. Conheci muito bem o sr. Padre Fernando. O seu nome ficará sempre ligado à obra que conseguiu edificar em Fontelonga e de que tanto gostava de falar: o Lar de Idosos (Cristo Rei) e o Jardim-de-infância.
No cimo da rua há uma interessante fonte em ferro fundido.
Segui para a Igreja Matriz. É, sem dúvida, o mais importante património edificado da aldeia. Trata-se de um edifício imponente, com Torre Sineira Central, com dois sinos. Está voltada para poente sendo o acesso principal pelas suas traseiras. Há um cruzeiro recente, fora do adro, mas o que chama a atenção é o Cristo Redentor pintado na parede das traseiras da capela-mor. O adro é um espaço muito agradável, repleto de árvores, arbustos e relva. É caso para se dizer – É um prazer ir à igreja. Tem gravado o ano de 1875 na fachada, mas este não é o primeiro templo. Fontelonga é das paróquias mais antigas do concelho. O seu desmembramento da paróquia de S. Salvador de Ansiães aconteceu durante o séc. XV. Cristiano Morais refere que “Durante a visita feita à igreja da Fontelonga, pelo Reverendo Dr. José Pereira da Mota Pimentel, Abade de Vilar de Ferreiros/Mondim de Bastos, em Outubro de 1782, nela deixou, em capítulo, uma ordem para que a comenda e o povo ampliassem a igreja, destruindo a existente, velha e pequena, e no seu lugar levantassem um novo templo”. Isso não deve ter acontecido nos anos seguintes, mas veio a acontecer mais tarde.

No frontispício está a imagem em pedra de Santa Maria Madalena, padroeira da freguesia. Vale a pena visitar o interior. Os altares em talha dourada são muito bonitos, principalmente o da capela-mor. Está deteriorado e a precisar de restauro, mas deve ser bem mais antigo do que os restantes. De todas as imagens que existem no seu interior, destaco a de Santa Clara, do lado esquerdo do altar-mor. É uma santa de muita devoção pelas pessoas da aldeia, que chamam também ao monte do Pinocro, Monte de Santa Clara.
Saí pela porta do Fotreco em direcção à única capela existente na freguesia. Disseram-me que existiu outra, particular, mas actualmente a capela de S. Sebastião é única e situa-se a cerca de 500 metros da igreja. Encontra-se junto ao caminho, tem torre sineira central encimada por uma cruz. Apresenta pináculos simples nos quatro cantos.
De regresso à aldeia fiz uma paragem no café do Adro. A minha presença na aldeia já tinha sido notada e não faltou assunto para conversa. Fiquei a saber que existe uma passagem natural debaixo das rochas próximo do Pinocro e há ruínas de vários moinhos de água nos ribeiros. Junto de um desses moinhos há uma rocha com muitas cavidades escavadas onde os pássaros fazem os ninhos.
O tempo passou rapidamente e não havia possibilidade para mais visitas. Não podia ir-me embora sem fotografar as alminhas que existem junta à estrada a caminho de Besteiros. Um habitante ofereceu-se para me levar lá de carro e eu aceitei. Estas alminhas foram mudadas de um sítio não muito distante do local onde se encontram agora. Estão num bloco de granito com cerca de um metro e meio de comprimento por meio de altura. Curiosamente são visíveis inscrições de ambos os lados do retábulo. Do lado direito distinguem-se perfeitamente as letras C.F. e o ano de 1906 no lado esquerdo. No topo da rocha há restos de ferro cravados. Pode ter sido uma grade, alguma cruz ou mesmo um mealheiro. As alminhas destinavam-se a recolher dádivas dos que por elas passavam. Com esse dinheiro eram celebradas missas em remissão das Almas do Purgatório. Por esta estrada passa a procissão, em direcção a Besteiro, onde se homenageia Santa Luzia, anualmente, na segunda-feira de Páscoa. Este será um bom motivo para uma nova visita a Fontelonga.
De regresso à aldeia pensei de novo nas palavras com que iniciei o meu percurso: “Feia, fria e farta”. Não tenho dificuldades em concordar com o segundo atributo. Depois de tudo o que vi e passeando os olhos pelos campos em redor onde se distinguem verdejantes pomares de macieiras, soutos, hortas e batatais com abundantes recursos hídricos, tenho que concordar que se trata de uma aldeia farta, pelo menos que toca à produção agrícola. Quanto à beleza, se dúvidas houvesse, elas dissipar-se-iam com um último olhar ao pôr-do-sol por sobre os telhados das casas de Fontelonga quando já partia em direcção a Penafria. Feia?! Não.

1 comentário:

Anónimo disse...

A terra dos três "Fs" como é conhecida Feia,Fria e Farta!
Para nós feia a nossa aldeia não é mas sim a mais bonita de todas as outras. Penso que quem a visita também se apercebe da beleza que ela demonstra a todos os olhares.
Fria? talvez se nos estivermos a referir a temperatura do Inverno rigoroso que sobre ela caí, mas o calor humano da nossa população apaga todo o frio que possa haver.
Fontelonga é uma terra farta onde o povo oferece tudo o que tem, uma terra hospitaleira como a nossa não pode deixar de ser visitada!!