Despertava a Aurora, silenciosa e meiga.
Lá baixo, junto à ribeira, - suave a veiga.
Um melro, por entre a ramagem, cantava.
Cantava a sua terna melodia, - trinava!...
Oh! Céus, o que ele dizia à sua namorada!...
Sonho da noite, o despertar da Alvorada!...
E o melro, no galho do amieiro, empoleirado,
Rei-maestro, forte e vigoroso, - um Senhor, -
Cantava as mais belas canções de amor!...
O que dizia por entre a fresca ramagem!...
Do Céu, por certo, era a sua linguagem...
A namorada, do outro lado do rio,
Sorria, sorria contente, mas, nem pio!...
E o triste cantava, cantava, ou... chorava!...
Enquanto ela, dos olhos, as lágrimas limpava,
De alegria, bem por certo,
Que de si o desejava mais perto!...
Silenciosa, chorava, chorava...
E, em desejos, toda ela o devorava.
E ele, assobiava, assobiava!...
Que, em desejos, o peito lhe ardia;
E, em lágrimas, toda ela o sorvia.
- Eis que num último estretor,
Num voo meigo, em asas de amor,
Voou, voou, sorridente e já vencida,
Até junto dele, toda enternecida!...
Linhares, Abril de 1993
Poema da autoria de Morais Fernandes, do livro Fogo e Lágrimas 2.
Fotografia: os últimos raios de sol, perto de Parambos.
Sem comentários:
Enviar um comentário