quinta-feira, 15 de abril de 2010

À Descoberta de Vilarinho da Castanheira (1/2)

Publicado no jornal "O Pombal", em Fevereiro de 2010.
Um gelado dia do mês de Fevereiro poderá não ser a melhor escolha para partir À Descoberta de Vilarinho da Castanheira, mas foi isso que aconteceu.
Vilarinho da Castanheira fica a 15 km de Carrazeda de Ansiães e sensivelmente à mesma distância de Vila Flor. Distante dos “grandes” eixos rodoviários, é uma aldeia desconhecida de muita gente, embora seja uma das maiores e mais históricas do concelho. À excepção de algum viajante que por ali passe em direcção à Lousa, ou mesmo a Torre de Moncorvo, só os habitantes de Pinhal do Douro são obrigados a atravessar a aldeia, seguindo depois em direcção às encostas do Douro.

Cheguei ao Vilarinho a meio da manhã. A temperatura estava próximo dos zero graus e o nevoeiro cobria a parte mais alta da aldeia. Segui pela estrada em direcção à Lousa e Castedo com intenção de visitar a anta, mais conhecida por Pala da Moura. É uma boa forma de começar uma visita a esta aldeia, uma vez que a anta está classificada como monumento nacional desde 1910.
O acesso a este monumento faz-se por um estradão bem sinalizado e que pode ser percorrido por carros ligeiros, mas não neste Inverno. Depois de percorrer os primeiros metros estacionei o carro e continuei a pé. Chovia com pouca intensidade e havia água e lama ao longo de todo o percurso. Já estive na Pala da Moura algumas vezes e, por isso, já sabia o caminho e o que ia encontrar. Este monumento funerário megalítico é de grandes dimensões, quando comparado por exemplo com o que existe em Zedes. É composto por oito esteios e uma laje gigantesca que lhe serve de tampa. Tem um corredor orientado para nascente que dá acesso à câmara. Ainda são visíveis no interior, pelo menos num esteio, vestígios de pintura a vermelho vivo, sendo impossível decifrar o que representa. A área envolvente está limpa, tem caixotes para o lixo, mesas e bancos onde se podem passar alguns momentos agradáveis. A última vez que aqui estive foi em Maio de 2008, com as giestas cheias de maias amarelas espalhando um colorido e um perfume fantásticos. Este é um lugar muito sossegado, longe de qualquer barulho.
Continuei pelo caminho que segue para sudoeste e que conduz ao ribeiro onde há ruínas de moinhos de água. Alguns desses moinhos foram recuperados e esse local era totalmente desconhecido para mim. Seguindo o caminho sinalizado, não foi difícil encontrá-los. Os dois primeiros moinhos, a montante, estão recuperados. O espaço envolvente está cuidado, com mesas e bancos convidando a descansar. Foi o que eu fiz.
Por momentos o nevoeiro deixou o Vilarinho a descoberto e pude apreciar, à distância, a configuração da aldeia. Parece ter sido construída em redor de um cabeço, descendo pelas suas encostas, mais voltada para o Sul, mas rodeando completamente o morro. A esse cabeço chamam o Castelo. Locais como este foram os escolhidos para a construção de castros, aproveitando as suas defesas naturais. No alto do Vilarinho existiu, certamente, um castelo. A posição geoestratégica da aldeia, entre a Lousa e o castelo de Ansiães, conferia-lhe importância. A provar a sua antiguidade está a própria Pala da Moura, afirmando-se que existiam duas ou mesmo três.
Vilarinho da Castanheira teve o primeiro foral no séc. XIII e o último no séc. XVI. A sua importância manteve-se ao longo dos séculos tendo sido vila, sede de concelho e ultrapassando os 1500 habitantes. Hoje terá pouco mais de 700.
Segui o percurso do ribeiro durante algumas centenas de metros. Para minha surpresa novas ruínas foram surgindo, levando-me a pensar que existiam no local perto de uma dezena de moinhos de água. Encontrei também dois fornos de cozer o pão! Noutra época, no período invernal, devia existir aqui quase uma pequena aldeia, formada pelos moinhos e as habitações onde viviam os moleiros e suas famílias. Consegui mesmo imaginar as crianças a correrem pelos carreiros, as galinhas a debicaram erva tenra e a beberem nas pequenas poças escavadas nas rochas. Nada perturbava os meus pensamentos, mas, um olhar ao relógio, disse-me que estava na hora de seguir para a aldeia. Voltei à estrada (N324), onde tinha deixado o carro.

Continua: À Descoberta de Vilarinho da Castanheira (2/2)
Nota: algumas das fotografias foram tiradas noutras viagens a Vilarinho da Castanheira.

1 comentário:

PILOTO disse...

Ñ gosto das fotos "artificiais", o natural é mais autentico, ñ acha???