domingo, 29 de maio de 2011

À Descoberta de Ribalonga (2.ª Parte)

Continuação de: À Descoberta de Ribalonga (1.ª Parte)
Um pouco ao acaso, continuei pela rua das Cortinhas que conduz ao largo do “Choupo”. Compreendi, sem dificuldade, que ali era o coração da aldeia. Existem à volta deste largo: a igreja matriz; a fonte de Santa Marinha; a sede da Junta de Freguesia; a confluência de 4 ruas que partem em direcções opostas, permitindo alcançar todo o povoado.
As igrejas são um dos pontos de referência que nunca perco em qualquer aldeia que visite. Como seria de esperar, estava fechada, mas não dei o tempo por perdido. Das traseiras da mesma têm-se uma bonita vista do bairro do Barreiro e dos socalcos em frente, cheios de vinha e olival. Apetece passear o olhar, vale abaixo, em direcção ao Douro. É um bom local para repousar, acompanhado por uma velha oliveira, ainda carregadinha de negras azeitonas, uma romãzeira e uma mimosa em flor, onde um pintassilgo cantava incessantemente.
Embora a igreja de Ribalonga se tenha tornado autónoma da de Linhares no início do séc. XVI, a pobreza dos habitantes e o domínio incondicional de uma só família, não permitiram a construção de um grande templo. Sabe-se que em 1562 existia aqui uma pequena capela coberta com colmo. Em 1687 era pároco de Riballonga, Domingos de Mendes, tendo já orago de S. Marinha. A igreja actual deve ter sofrido várias remodelações e ampliações, ficando com o aspecto actual em 1714, ano inscrito na padieira da porta do frontispício.
Curiosamente, em 1680 já existia em Ribalonga (Quinta de Ribalonga) a capela do Espírito Santo, mandada fazer por Manuel de Mello Sampayo, pertencente ao Margadio da Senhora da Graça. Que é feito dessa capela? Será que se tratava da capela do Senhor dos Passos?
Completada a volta à igreja, reparei nas curiosas “torres”, sobre os pilares que suportam o gradeamento. Segui pela rua da Calçada. A poucos passos de distância encontram-se as ruínas de uma casa brasonada. Trata-se de um brasão dos Sampaios. Conhecida como a casa dos Viscondes, é o oposto daquilo que a história diz sobre a importância desta casa e desta família para a aldeia de Ribalonga.
Os senhores Sampaio eram donos absolutos de todo o termo de Ribalonga. Além dos terrenos que geriam directamente, arrendavam os restantes, recebendo de renda centeio, trigo, azeite galinhas, marrã, peixes do rio e dinheiro. É de salientar que o vinho não tinha na altura (séc. XVII) a importância que tem hoje. Os terrenos estavam divididos por 65 casais.
Em 1759 o morgado de Ribalonga, Antonio de Mello S. Payo Pereira Pinto do Lago, pede ao rei que lhe sejam devolvidos os concelhos de Vilarinho da Castanheira e de Ansiães. Estas terras estavam doadas à família Sampaio desde o séc. XIV.
À entrada da Canelha de Cima dei comigo a pensar: as casas humildes, perduraram, estão recuperadas; as casas ricas, sumptuosas, estão em ruínas. No portal do que já foi um lagar de azeite o ano de 1717 atesta a antiguidade da construção. Foi nesta canelha que me apercebi da combinação do xisto e do granito na construção das casas.
Na Canelha de Baixo fui encontrar ruas estreitas e casas degradas. Uma amostra do que terá sido o início da aldeia. Mesmo assim, ainda há gente a morar ali.
De regresso à rua da Calçada, resisti à tentação de continuar a descida. Após admirar o gradeamento em ferro forjado numa varanda de uma casa tradicional, descobri, por acaso, a rua da Fonte do Vale. Rua, é favor, uma vez que se trata de um passagem que se vai tornando cada vez mais estreita e íngreme e que conduz à ribeira da Lavandeira. É um bom percurso pedestre, que segui com entusiasmo, pois onde está a rua da Fonte, deve estar a fonte. Esta encontra-se já fora da povoação, depois de atravessada a ribeira. Não me foi difícil imaginar que se tratou de um dos principais pontos de abastecimento de água da aldeia. O estreito caminho era percorrido pelas mulheres com o cântaro à cabeça, que alinhavam pela ordem de chegada junto da fonte, enquanto esperavam pela sua vez.
A fonte teve no passado um aspecto bastante diferente, uma vez que agora está completamente fechada, sendo mais um reservatório que alimenta um tanque de lavar a roupa, também ele pouco ou nada utilizado. É um local agradável, exposto ao sol e com cheiro a citrinos.
Decidi continuar a afastar-me da aldeia subindo alguns socalcos com vinha. Tal como esperava, a paisagem que dali se avista é magnífica. É possível ter uma noção perfeita de quase todas as ruas, para completar a visão que se tem da Estrada Nacional, do sítio do Rebentão, para onde as pessoas de Ribalonga se deslocavam a pé, quando queriam apanhar os transportes públicos para o Tua ou para a sede de concelho. Subi mais um pouco a encosta até que um bando de tordos assustados abandonou um rectângulo de mato encaixado no meio dos socalcos. A minha curiosidade pela flora levou-me a encontrar arçãs (já em flor!), madressilva e medronheiros. Na descida pela rua da Fonte do Vale também encontrei alguns pés de sumagre!
Sentei-me numa parede a olhar a aldeia. A tranquilidade era imensa, só interrompida pelo canto de um garnisé, sempre enérgico, na rua do Barreiro.

Continua
À Descoberta de Ribalonga (3.ª Parte)

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