segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

À Descoberta de Seixo de Ansiães (3/3)

Continua de: À Descoberta de Seixo de Ansiães (2/3)
Depois de chegados à recente capela mortuária, está-se, de novo, no largo do Adro, ou seja, no ponto de partida.
A igreja merece uma visita. A paróquia do Seixo teve início no séc. XV, mas este templo não é dessa época. O mais certo é que nada tenha restado das primeiras construções, que devem ter sido, ou uma pequena igreja, ou mesmo uma capela adaptada. No séc. XVIII já existia uma igreja com três altares. Na capela-mor estavam a imagem de S. Sebastião, de um lado, e a de S. António do outro. Nos altares laterais estavam uma imagem de Nossa Senhora do Rosário (vestida a tecido) e Cristo crucificado. Esta imagem de Cristo crucificado pode muito bem ser a que recentemente foi colocada junto à pia batismal, junto à porta principal da igreja. Não sei se existe algum vestígio da dita imagem de Nossa Senhora do Rosário, que na altura tinha uma irmandade na aldeia (havia também as irmandades das Almas e a do Santíssimo Sacramento).
Atualmente há a destacar mais algumas imagens e um altar. Há mais um altar com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Este altar, em talha dourada é bastante mais antigo que os dois altares laterais. Tem um elemento decorativo bastante interessante. Trata-se de uma pomba pintada, ou seja o símbolo do Espírito Santo. Ora, existindo na aldeia uma capela dedicada ao culto do Espírito Santo desde longa data, não terá este altar vindo dessa capela? É bem possível que sim. A imagem do Senhor dos Passos é imponente.
A igreja foi recentemente restaurada quase na totalidade. Quando a visitei, há poucos meses atrás, não tinha sinais evidentes de necessitar de restauro, mas a paróquia tem a vantagem de contar um conjunto de beneméritos que têm gosto no seu templo. Todos os altares foram desmontados e levados para restauro. Foram recolocados, e a igreja foi reaberta ao culto há poucos dias, com a presença de D. José Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda a presidir à celebração da Eucaristia em que concelebraram o Pároco Rev.do Padre Humberto Coelho, o Rev.do Padre José Belmiro e o Rev.do Padre António Bernardo. Para além do restauro dos altares foram também refeitos o teto e o chão da capela-mor, composto parte do chão da igreja e comprado um novo ambão. Uma enorme cruz de madeira, que vai do chão ao teto, foi deslocada mais para a retaguarda da igreja. É uma peça muito bonita, mas não se encontra bem enquadrada neste templo clássico.
Sob uma pia de água benta em granito está esculpido um rosto humano. Dizem que representa o Seixo.
Terminado este percurso pela aldeia, quase de certeza que o olhar foge para o cume do monte onde se ergue uma pequena ermida, a Senhora da Costa. Esta ermida é muito antiga, já existia no séc. XVIII, embora já não seja o mesmo edifício. O anterior, em granito, foi demolido e foi construído outro, Nossa Senhora da Costa “nova”.
O acesso ao alto do monte é fácil, mesmo num carro ligeiro, através de um estradão recentemente composto. E vale a pena subir lá ao alto, é um excelente miradouro! São muitos os povoados que daqui se avistam: Lavandeira (com o seu Castelo), Selores, Carrazeda de Ansiães, Beira Grande (ali próximo), Vilarinho da Castanheira, Pinhal do Douro e uma vastidão de paisagem que se estende ao longo do ribeiro da Vila, da queda de água da Ôla (ou Síbio) até ao vale do Douro, onde o rio corre mansinho rodeado de belas quintas com os suas vinhas em socalco. O olhar perde-se par lá do rio.
Junto da ermida há uma pequena gruta nos rochedos que apresenta restos de tinta de um fundo azul com estrelas brancas pintadas. Pensei tratar-se do local de alguma cerimónia, mas ninguém me confirmou se alguma vez ali foi colocada uma imagem. Há a crença de que nessa gruta apareceu Nossa Senhora pela primeira vez. Assim, talvez se perceba melhor a designação de Nossa Senhora da Lapa, porque também é conhecida. A festa nesta ermida era realizada a 25 de Março, mas agora tem lugar no início de Agosto, com um dos pontos mais altos na procissão com a imagem de Nossa Senhora da Costa.
Para terminar este passeio por Seixo de Ansiães falta referir a simpatia das pessoas com que me cruzei em várias visitas que fiz à aldeia. Em todas senti vaidade no seu torrão, neste caso no seu seixo, e disponibilidade para falarem e mostrarem o que mais apreciam na sua terra. Muito mais coisas haveria a descobrir, mas isso será já tarefa de cada um, se tiverem vontade e gosto em conhecer os recantos do concelho.

Este texto (e algumas das fotografias) foi publicado no jornal O Pombal, em Dezembro de 2011.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito agradável recordar a nossa terra e o seu povo.
Parabéns pelo excelente trabalho e continuação de óptimas reportagens.