Continuação de : À Descoberta de Belver 2/3
A capela foi construída aproveitando a existência de um cruzeiro em pedra com duas
imagens, nas costas uma da outra, Santo Cristo da Agonia e Nª Sª do Amparo. O altar, ou melhor os altares, de costas um para o outro foram
construídos mantendo as imagens em pedra no centro da talha em madeira,
estando situados, mais ou menos, no meio da capela. Como tem duas portas
de entrada e dois altares, pode dizer-se que é uma capela dupla, onde
dois padres podem celebrar ao mesmo tempo, sem se verem. O fuste do cruzeiro e as imagens estão completamente pintados, não se notando, à
primeira vista, a separação entre a pedra e a talha dos altares. O
cruzeiro é muito mais antigo de que a capela, não se sabendo ao certo a
sua origem. Ainda há pouco tempo vi um semelhante em Alcanices.
Esta
capela foi atingida por um relâmpago em maio de 2011. O poder destrutivo
começou na cruz cimeira, seguiu pela instalação elétrica, espalhou-se
pelos altares fazendo saltar faíscas por todos os lados. As toalhas
brancas dos ficaram com buracos causados pelo fogo. Foi recuperada,
sendo mínimos os vestígios desse acidente. A cruz foi substituída,
porque se partiu quando caiu ao chão. O interior foi restaurado e
pintado. Também nas casas vizinhas o susto foi enorme causando estragos
nos eletrodomésticos.
A capela é usada é usada como casa mortuária. A população é pouca e o espaço suficiente e aconchegado.
Há
mais uma curiosidade nesta capela – a Pedra da Morte. O nome é
sugestivo, mas a sua origem não é muito clara. A pedra tem quase um
metro de altura e uma forma que se assemelha à base de um pilar. Seria a
base do cruzeiro? É pouco provável. Apresenta em relevo uma figura
humana, o próprio diabo, dizem. Há quem distinga nela os chifres e o
rabo, que parte de um lado, e contorna toda a pedra. O que é garantido é
que ela se encontrava no exterior da capela. Apenas foi colocada no
interior com receio de que fosse roubada. Também é verdade que, em
tempos idos, os rapazes mediam forças, uns com os outros, transportando a
pedra às contas em voltas à capela.
Está referenciada também uma ermida, dedicada a S. Martinho, a um quarto de légua da igreja, mas desconheço a sua localização
A
igreja matriz está próxima. Este templo deve ter sido construído no
séc. XVI e reformulado mais tarde. Cristiano Morais diz que foi ampliada
em 1775. Exteriormente é de linhas simples, constituída por uma planta
longitudinal, composta por nave única e capela-mor. Apresenta uma torre
sineira na fachada, dupla e central. Os pináculos, quer na igreja, quer
na sacristia lateral, são singelos. No interior o retábulo que cobre o
arco triunfal de volta perfeita e que integra os altares colaterais
maneiristas, não é contemporâneo do da capela-mor. Este último foi
restaurando há menos tempo, mas um pouco de atenção nos motivos
evidenciam diferenças, para além do facto de um estar restaurado e do
outro necessitar de restauro. Gosto mais do rendilhado do retábulo da
nave.
No teto estão pintados os quatro evangelistas, os doze apóstolos e Nª Sª das Dores.
Desde
a última vez que estive na igreja houve algumas alterações. O ambão
mudou de lado. A imagem de Nª Sª das Neves também mudou de posição. Em
2008 estava do lado do Evangelho e atualmente encontra-se do lado da
Epístola. Tal mudança parece dever-se à existência de uma outra imagem, a
de Nossa Senhora de Fátima, do lado do Evangelho. Qualquer pessoa que
entre na igreja vai procurar a imagem do padroeiro/a na lugar em que se
encontra hoje S. Pedro! Já em 1758 S. Pedro, com uma irmandade na
paróquia e N.ª Sª das Neves, partilhavam o altar da capela-mor, mas a
imagem da virgem com o Memino seria a que se encontra hoje na nave
principal da igreja, que é muito vistosa. Esta imagem estava em 2008 num
altar lateral, que foi entretanto desmontado e removido!
Há mais imagens na igreja, mas a de Stª Ana e a de Nª Sª da Conceição merecem algum destaque.
Abandonado
o adro da igreja e caminhando mais algumas centenas de metros em
direção a Fontelonga, encontra-se o ribeiro do Moinho. Nele existem
tanques para lavar roupa, mesmo no leito do ribeiro, junto ao antigo moinho. Deixa-se a estrada, à esquerda e caminha-se um pouco ao longo do
ribeiro até atingir o moinho. Está prevista a sua recuperação por parte
da Liga dos Amigos de Belver, mas não está minimamente preparado para
ser visitado. Andei em volta e não consegui descobrir a porta! Com pena
minha, abandonei o local.
De novo na estrada, se o tempo disponível
for suficiente e a vontade de caminhar for muita, pode seguir-se em
direção ao bairro das Carvalhas e daí para a fraga das ferraduras. Este
sítio de arte rupestre fica a aproximadamente 2 km de distância. Uma vez
que se situa a poucos metros de distância da estrada que segue para a
Piscina Municipal e barragem da Fontelonga é possível aceder-lhe
facilmente em automóvel.
De regresso ao largo da Praça, falta uma
última paragem, na fonte da Romana. Fica na canelha da Figueira, a curta
distância da capela do Santo Cristo. Trata-se de uma fonte de mergulho,
parcialmente abatida, mas que ainda têm água que é usada para regar
algumas hortas em volta. Seria muito bom que se procedesse à preservação
desta estrutura, bem bonita e que deve trazer boas recordações às
pessoas mais idosas.
Termina assim o passeio À Descoberta de Belver.
A aldeia apresenta um bom conjunto de pontos de interesse para ser
visitada, com casas tradicionais, fontes e algum património religioso. O
principal problema de Belver, é, sem dúvida, a falta de gente que
utilize os espaços, que cuide deles, para que seja mais agradável viver
neles e visita-los.
O encontro da Liga dos Amigos de Belver está
marcado para agosto. Estive presente 2008 e posso garantir que os
belverenses são exemplares no bem receber (bem à maneira transmontana).
Até lá…
Artigo publicado do jornal O Pombal, em Julho de 2012
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