Beira Grande pertence ao grupo de aldeias do concelho de Carrazeda de Ansiães que menos conheço. Apesar de distar apenas 10 quilómetros da sede de concelho, não passa pela aldeia nenhuma das vias de comunicação principais, pelo que só vai a Beira Grande, quem tem mesmo que ir. Encaixada entre o termo das freguesias de Lavandeira e Seixo de Ansiães, faz ainda fronteira com Selores, mas é ao Douro que todos os caminhos conduzem e onde os ribeiros, outrora povoados de moinhos, vão morrer.
Trata-se de uma freguesia essencialmente agrícola, com produção de batata, laranja e azeite mas sobretudo vinho, beneficiando das caraterísticas edafoclimáticas do Alto Douro Vinhateiro para a produção de um vinho único. Aqui não se produz só o tão afamado vinho fino, mas também vinho de mesa, sendo comercializadas pelo menos duas marcas com Denominação de Origem Controlada, a Fonte das Vinhas e a Grambeira.
Em termos históricos a freguesia esteve sempre ligada à vila amuralhada de Ansiães, tendo depois uma ligação muito curta à freguesia de Seixo de Ansiães. Também teve ligação à paróquia se S. Gregório, de Selores, mas no Séc. XVI já se assumia como paróquia autónoma.
Existe no termo de Beira Grande um sítio arqueológico, de nome S. Pedro, que atesta a presença humana desde a Idade Média, mas, se pensarmos que as gravuras do Cachão da Rapa não estão muito distantes, facilmente se aceita que o homem sempre por aqui andou.
O povoado fortificado de S. Pedro, situado nas margens do ribeiro do Cíbio, não muito distante do marco geodésico do Seixo dos Corvos, proporcionava, só pela sua localização, uma excelente defesa natural, mas aliada à possível existência de linhas de muralha fariam do lugar um espaço seguro.
O acesso ao local é feito pela Estrada Municipal que liga Beira Grande ao Douro, percorrendo exatamente dois quilómetros partindo do centro de Beira Grande (Junto à Igreja Matriz). A abertura desta estrada, que corta o sítio a meio, pode ter ajudado à destruição de elementos importantes para o estudo do local.
Apesar dos habitantes falarem de vestígios visíveis da igreja, do cemitério e de um conjunto de casas, não é fácil encontra-los, quanto mais assegurar com alguma certeza do que se trata. Parte do sítio foi usada para a agricultura até a atualidade, sendo as pedras das possíveis muralhas e habitações deslocadas para a construção de muretes de pedra. A estrutura que dizem ser as paredes da igreja está numa zona de forte declive, e estaria, provavelmente, fora das muralhas. Seria o cemitério? Seria um apiário?
No sítio de S. Pedro foram encontrados fragmentos de cerâmica e de moventes de mós, que ajudaram a determinar a sua cronologia como sendo da Idade Média.
Não muito distante deste sítio há um grande cruzeiro em granito, conhecido como cruzeiro da Fonte Santa. Diz a lenda que no local existiu uma fonte de água com poderes milagrosos, à qual acorriam pessoas vindas de longe, atacadas por todo o tipo de maleitas. A fonte secou após um lavrador ter lavado nela as feridas de um burro.
Garantiram-me ter existido outro cruzeiro, anterior a este, a curta distância. A toponímia Cruz Velha parece confirmá-lo. Ao fundo da encosta, voltada a nascente, do sítio de S. Pedro, sempre existiu uma fonte de onde brotava água em abundância. Na reparação do caminho uma giratória destruiu a fonte e abriu um poço. Apesar do ano estar a ser anormalmente seco o poço está cheio e a água, que escorre para o exterior. A água pode não ser santa, mas é muita e pura.
A aldeia é atravessada por uma estrada que desce do Seixo de Ansiães e vai morrer junto do Douro, depois de ter percorrido uma das mais belas paisagens do concelho. A dar as boas vindas ao visitante e assinalar o termo do Seixo e o início do da Beira Grande está uma placa em granito. Sem esta placa quase não se dá conta onde termina uma aldeia e onde começa a outra! Isto porque, tal como em muitas outras localidades, as pessoas foram abandonando os núcleos mais antigos do povoado e foram construindo casas, em moldes diferentes, noutros espaços, como a Rua da Costa, a Rua do Cemitério ou a Rua do Geraldo, a da entrada. Para dar um passeio pela aldeia, o Largo de S. António, junto à igreja é o lugar ideal para estacionar.
Continua em: À Descoberta de Beira Grande (2/3)
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