domingo, 13 de junho de 2010

À Descoberta de Mogo de Malta (2ª parte)

Continuação de: À Descoberta de Mogo de Malta (1ª parte)
Já de automóvel, continuei a subir a rua e segui pela esquerda em direcção ao antigo campo de futebol, onde ainda joguei algumas vezes. Surpreendeu-me a grande quantidade e dimensão dos castanheiros que ainda é possível encontrar. Esta saída do núcleo habitacional destinava-se a visitar umas antigas alminhas, conhecidas como as alminhas da Fraga do Medo. Dada a proximidade a um marco geodésico, não me foi difícil encontrá-las. Há naturais que ainda se recordam de aí existir um retábulo de madeira representando o purgatório. Hoje apenas se notam três buracos abertos na rocha, talvez destinados a prender o dito retábulo. Não me foi confirmado por ninguém, mas é possível que também tenha existido uma cruz em madeira sobre a rocha.
Estes monumentos às Almas do Purgatório foram erguidos nos caminhos e à entrada das localidades. Entre a fraga onde se encontram estas alminhas e a que serve de base ao marco geodésico (785 metros de altitude) passa um caminho que, desde tempos imemoriais, liga Freixiel a Mogo de Malta. Já em tempos recentes, era utilizado pelos habitantes de Freixiel para se deslocarem às feiras a Carrazeda de Ansiães. Este local, com uma fraga larga e solarenga foi utilizado no passado para brincadeiras de crianças ou para encontros amorosos nas tardes de Domingo, até para bailaricos! Com a edificação do santuário, este passou a ser o local de encontro. Também era desta fraga que as pessoas se concentravam para apreciar o fogo-de-artifício lançado no Cabeço, na festa de Nossa Senhora da Assunção nas noites de 15 de Agosto. Nada fornece indicação a respeito do nome, “Fraga do Medo”, nem sequer o tamanho das ditas fragas, que, mesmo antes de serem em parte cortadas para a construção civil, não deviam apresentar um tamanho medonho. Arrisco uma explicação: sendo um caminho com alguma circulação de pessoas, que, neste local, passa entre dois conjuntos de rochas graníticas, a poucas centenas de metros da aldeia, seria um bom local para salteadores e malfeitores esperarem e surpreenderem os viajantes.
A etapa seguinte foi o moinho de vento e a calçada. Contrariamente ao que alguns moradores já me tinham afirmado, o moinho movido a vento funcionou mesmo, fazendo a farinha necessária para o fabrico próprio de pão. Estruturas semelhantes existem em Carrazeda de Ansiães, Vilarinho da Castanheira e Lousa.
Terão também existido pelo menos dois moinhos movidos a água.
De junto do moinho de vento parte a Calçada de Mogo de Malta. A sua cronologia é indeterminada. Destinava-se a proporcionar o acesso a terrenos agrícolas numa zona de forte inclinação e com enormes rochedos. Talvez se prolongasse até Freixiel, seguindo para Vila Flor ou apenas chegasse junto da Ribeira da Cabreira. Há residentes que se recordam se não da construção, pelo menos de obras de recuperação, dado que todos os recantos eram cultivados e havia boas hortas com água para rega.
É muito agradável fazer o percurso da calçada. São aproximadamente 600 metros, com troços muito bem conservados e com uma vista lindíssima para o Vale da Cabreira que pode ser admirado em toda a sua extensão. Na encosta em frente distinguem-se algumas construções encaixadas nas fragas, fazem parte da Quinta do Pobre. Quase consegui ver as laranjeiras carregadas de frutos douradas, que rodeiam o poço onde o senhor Manuel pendurava a pão, à falta de frigorífico.

Não muito longe da calçada, situa-se a Santuário de Nossa Senhora dos Saúde. É o local ideal para apreciar a aldeia e também toda a paisagem em redor, desde o alto da Senhora da Graça, em Samorinha, até ao cabeço de Nossa Senhora da Assunção, em Vilas Boas. O interior da capela é muito simples. Não há qualquer elemento decorativo, simplesmente as imagens de Nossa Senhora da Saúde e de Jesus crucificado. Junto à porta lateral uma placa lembra a curta história deste espaço. A primeira pedra para a construção da capela foi lançada em 19-07-1954 e a inauguração aconteceu em 17-04-1955. Coincidência, há exactamente 55 anos!

Neste local, no último fim-de-semana do mês de Julho, realiza-se grandiosas festas. Das muitas vezes que estive presente nestas festas, recordo alguns anos em que os andores eram decorados com sementes germinadas e com aparas de madeira, vindas das várias tanoarias que ainda existem nos dois Mogos. Esta prática parece ter-se perdido.
 Se não fosse a instabilidade climatérica teria ficado mais tempo neste local tranquilo e inspirador, mas dirigi-me para o Museu Etnográfico. Fiquei admirado com a quantidade e riqueza do acervo. Os objectos estão cuidadosamente agrupados, formando pequenos núcleos, facilmente identificáveis. Podemos encontrar a sala de aulas, a cozinha, o quarto e um vasto conjunto de alfaias agrícolas e de carpintaria. É digno de ser visitado!

Para terminar a minha visita à freguesia de Mogo de Malta dirigi-me ao lar de idosos. Os utentes desta instituição são vinte e dois, quase todos mulheres. As instalações são espaçosas e estão meticulosamente limpas. Sentei-me durante algum tempo na sala de convívio. Acharam piada, alguém interessar-se pelo passado. Conversei demoradamente com Manuel dos Anjos (mais de 90 anos de idade), mas muito lúcido, que me falou do Mogo da sua juventude. É preciso ouvir os idosos, eles têm muito para nos contar e nada voltará a ser como antes.
 A última paragem foi no café da praça. Mais um espaço de convívio, de conversa, de descoberta da particularidade da vida das pessoas. Basta saber ouvir. Regressei a casa já de noite. Uma freguesia tão pequena, que nem sequer tem eleitores suficientes para eleger uma Assembleia de Freguesia, tendo que funcionar em plenário de cidadãos, tem tanto para mostrar a quem a queira visitar!

Publicado no jornal "O Pombal", em Maio de 2010.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

À Descoberta de Mogo de Malta (1ª parte)

São muitos os que, como eu, passam dezenas, centenas de vezes pela Estrada Nacional 214, atravessando Mogo de Ansiães, sem fazerem um pequeno desvio para conhecer a freguesia de Mogo de Malta. No dia 17 de Abril decidi quebrar esta rotina e segui directamente para Mogo de Malta, na tentativa de visitar os seus pontos de interesse, falar com os seus habitantes e Descobrir um pouco da sua história e das suas belezas.
A ideia de existirem dois Mogos, lado a lado, mas integrando freguesias diferentes, sempre me intrigou. Esse era um dos desafios que pretendia desvendar. A minha preocupação quando deixei a estrada nacional e segui pela rua Dr. João Trigo Moutinho foi a de tentar descobrir quando entraria no termo de Mogo de Malta. Imaginei que a linha divisória deveria estar muito próxima do primeiro ponto onde parei o carro, mas não encontrei ninguém que me ajudasse a esclarecer o enigma.
 Continuei pela mesma rua até encontrar umas Alminhas que motivaram mais uma paragem e as primeiras fotografias. Estas alminhas já têm um painel de azulejo monocromático representando o purgatório de onde se ergue uma cruz com Cristo crucificado. Este painel deve ter sido colocado uma época bastante posterior à edificação das alminhas que devem ter tido, numa primeira fase, um painel em madeira, embutido no mesmo lugar onde está o azulejo. Perto destas alminhas é possível encontrar, também na berma da estrada, uma fonte muito antiga, a que se tem acesso descendo por estreitas escadas em pedra. É conhecida pelo nome de Fonte da Mina.
outro caminho, este mais largo, que permitia o acesso a vários terrenos. Continuei por ele, desta vez em direcção à Escola Primária. O caminho largo terminou de repente e continuei por outro carreiro com cerca de meio metro de largura, com parede de um lado e do outro, que me levou à Av. Santa Catarina. De carro nunca me teria apercebido destes caminhos que me permitiram ver Mogo de Malta de uma nova perspectiva. Já na avenida, próximo da Junta de Freguesia, segui à procura de evidências da delimitação da mesma. Recordei um documento de 1859 que dizia que os dois Mogos estavam à distância de 100 metros um do outro, com a igreja de Santa Catarina a meio. Parei perto da Eira da Santa. Alguns residentes mostraram-me, perto da igreja, uma cruz encarnada pintada na estrada, marco actual da longínqua história destes povoados. E foi ao ver esta cruz que a minha memória voou pelo Vale da Cabreira, passou sobre o Pé-de-Cabrito, formação rochosa das mais curiosas que existem no concelho, e continuou em direcção a Folgares, seguindo para Pereiros, até ao Rio Tua. É nesta linha divisória que reside o verdadeiro significado da designação “de Malta”. Os concelhos primitivos de Ansiães e Santa Cruz da Vilariça deram lugar a outros, como por exemplo ao de Freixiel e ao de Vilarinho da Castanheira. Mogo de Malta tem a sua história ligada ao concelho de Freixiel, criado no séc. XII. Já anteriormente, D. Teresa, casada com D. Henrique de Borgonha, tinha doado Freixiel à Ordem de S. João de Jerusalém, também conhecidos por Hospitalários ou simplesmente Ordem de Malta. No momento da criação do concelho de Freixiel, Mogo, juntamente com Pereiros (e Codeçais), ficaram a pertencer-lhe. É possível que muitas das marcações ainda existentes sejam já dessa altura, mas outras foram feitas de novo ou avivadas em 1728. Desde Alagoa, passando junto à Igreja de Santa Catarina, continuando pelo Pé-de-Cabrito, seguindo depois a estrada para Folgares, descendo por Vale Covo, etc. é possível encontrar um vasto conjunto de cruzes gravadas nas rochas que delimitavam o território administrado pela Ordem de Malta em relação ao de Ansiães.
Actualmente há histórias bem curiosas sobre as casas situadas nesta zona de separação entre os dois Mogos: diz-se que há quem coma num Mogo e vá dormir a outro, mesmo sem sair de casa!

 A igreja de Santa Catarina estava ali perto por isso decidi visitá-la. Eis o que dela se dizia em 1758: “O orago é de Santa Catarina, tem três altares estando a Santa no do meio. Não tem o Santíssimo Sacramento. No altar da parte Sul está a Senhora do Rosário e no do Norte está um Santo Cristo que não haverá três anos, pouco mais ou menos, que dizem que faz milagres”. Já em 1766 dizia-se: “ a igreja tinha de nascente a poente e de comprimento sete varas e meia e de largo quatro varas e meia, estando a ser acabada de novo, com sacristia nova e capela-mor. O altar-mor, sem sacrário, onde está a imagem da padroeira, Santa Catarina, que está muito velha, tem dois altares colaterais, com a imagem de nossa senhora do rosário e no outro o Senhor crucificado”.
A igreja forma com o adro, o cemitério e uma pequena capela que ostenta, na porta em ferro forjado, as iniciais ATM e a era de 1898, um conjunto muito agradável à vista, com o granito à mostra. A nascente, nas traseiras da igreja, está em construção um novo edifício, igualmente em granito, que poderá ser uma estrutura de apoio.
Quando se entra não se pode deixar de reparar que é um templo pequeno, mas bonito e muito bem cuidado. Quase deu para reconhecer algumas das imagens de que falava o relato do séc. XVIII, mas há novas imagens e os altares estão em muito bom estado de conservação. O que despertou mais a minha atenção foram as bonitas pinturas, recentes, que decoram o tecto da capela-mor.

Saí da igreja e segui pela avenida mais espaçosa da freguesia. Aqui se encontra o edifício da Junta de Freguesia, um campo polidesportivo, a antiga Escola Primária, agora transformada em museu, e a “nova” Escola Primária, já sem a alegria das crianças do 1.ºCiclo mas ainda frequentada por um grupo do Pré-escolar.
Logo a seguir, à esquerda, a Av. Francisco Bernardo conduz ao Centro Social Paroquial de Mogos e ao Santuário de Nossa Senhora da Saúde. À direita há um minimercado e bar. A avenida termina no lugar mais espaçoso da aldeia, a Praça da Ordem de Malta, que agora tem um fontenário no centro. Decidi ir recuperar o carro, que abandonei logo quando cheguei. Para isso virei à direita pela rua Dr. João Trigo Moutinho, mais conhecida como Rua do Cimo do Povo. É nesta rua ladeada de casas humildes, com escadas exteriores em granito e varandas típicas, que se destaca uma casa, quer pelo volume e qualidade de construção, quer pelo jardim anexo. Trata-se da casa da família Pimentel. Nela podemos encontrar duas curiosidades que os habitantes de Mogo de Malta gostam de mostrar: um bonito relógio de sol em granito, encimando um largo portal lateral, também em pedra e o “Mogo”. A tradição popular não atribui a palavra Mogo à divisão ou extremo, mas sim a uma cabeça esculpida num bloco de granito que deve ter servido de sustentáculo ao corrimão da escada de entrada. Esta personificação da freguesia é bastante frequente e conheço situações idênticas em Zedes e Pereiros. Não deixa de ser curioso, e ainda não vi isto escrito em lado nenhum, o facto de logo abaixo da cabeça humana se encontrar, também gravada em alto-relevo, a cruz da Ordem de Malta. Este facto vai reforçar ainda mais a simbologia de que aquela cabeça representa realmente um habitante de Mogo de Malta.


João Inácio Teixeira Meneses Pimentel nascido em Mogo de Malta em 1859 foi uma figura ilustre. Engenheiro agrónomo, dirigiu a Estação Transmontana de Fomento Agrícola e foi cavaleiro da Ordem de S. Tiago.

Continua:
À Descoberta de Mogo de Malta (2ª parte)
Fontes históricas: Morais, Cristiano; (1995); Estudos Monográficos Vila Flor - Freixiel

sábado, 5 de junho de 2010

O alazão e o seu dono

Foi com alguma vaidade que mostrou o seu cavalo, ainda jovem, mas pujante, bonito. Talvez uma nova visita a Belver me proporcione a oportunidade de fotografar este belo cavalo num ambiente mais amplo.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

cara de Pereiros

Quando no ano passado publiquei uma fotografia de uma bonita varanda em Pereiros, uma leitora atenta chamou a atenção para a existência, na mesma habitação, de uma cara talhada no granito conhecida como a "cara de Pereiros". Na minha seguinte visita à aldeia procurei a dita cara e não me foi difícil encontrá-la. Curiosamente situações semelhantes acontecem em muitas das aldeias do concelho, como mostrarei em breve a respeito de Mogo de Malta.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Besteiros - Capela de Santa Luzia

Besteiros é uma pequena aldeia pertencente à freguesia de Fontelonga. A capela de Santa Luzia fica situada no centro da aldeia, onde existe um espaçoso largo e um bonito jardim. Também junto a este largo há um tanque e uma fonte que jorra grandes quantidades de água.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Fontelonga (2)

Não há muito tempo fiz uma rápida passagem pela aldeia de Fontelonga. O objectivo era ter um primeiro contacto com espaço de modo a aproveitar bem o tempo numa visita futura. Numa das ruas do centro da aldeia tirei esta fotografia.À esquerda é o Centro Social e Paroquial de Fontelonga, obra pela qual lutou muito o Padre Fernando, já falecido.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Calçada do Mogo de Malta

Já visitei 3 vezes a Calçada do Mogo: a primeira aconteceu em Novembro de 2007 e as outras duas no mês de Abril de 2010.  Faz parte do património arqueológico do concelho e é um dos pontos de interesse a visitar na aldeia.
Trata-se de uma calçada formada por lages de granito, algumas de grande dimensão, que descem a encosta voltada para o vale da Ribeira da Cabreira. Em conversa com alguns habitantes de Mogo de Malta, disseram-me que se lembravam de comporem a calçada, mas não me souberam dizer se foram pequenos arranjos ou se uma interversão mais profunda. Naturalmente que não se tratava da preservação da calçada por interesse arquiológico mas sim porque ela ainda era usada para acesso a algumas propriedades havendo, portanto, quem dela necessitasse. Agora as coisas mudaram um pouco. Há melhores acessos.
Embora muitas vezes se atribua a estas calçadas, e no concelho de Carrazeda há várias, a designação de romanas, elas são, na maior parte das vezes, de construção muito posterior. Neste caso concreto, a cronologia é indeterminada.
Uma análise mais atenta, mesmo de um leigo como eu, permite verificar que algumas das rochas usadas são bastante grandes e os cortes parecem ser relativamente recentes. Não são visíveis mascas de rodados de carros a não ser nalguns pontos, muito pouco significativos. O declive é muito acentuado, sendo possível um traçado melhor a poucas centenas de metros de distância passando por exemplo pelo Amêdo ou pela Fraga do Medo. Embora se aponte esta calçada como possível ligação a Freixiel, custa-me a crer que fosse a principal via de comunicação entre estas duas localidades, inclinando-me mais para a utilização da calçada para acesso aos campos cultivados.
De qualquer forma, dada a importância da calçada para o Mogo e para o concelho e ao potencial número de visitantes, parece-me que a mesma deveria estar mais cuidada. Houve, em tempos, alguns desentendimentos entre a Junta de Freguesia de Mogo de Malta e a Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães. Está mais do que na hora dessas questões serem ultrapassadas. Há lixo espalhado em vários locais, muito mesmo! É importante que os residentes tenham mais zelo, é a sua freguesia que está em cheque. Também as giestas e arçãs crescem descontroladamente em todo o lado.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Ribalonga (I)

Já era tempo de aparecer no Blogue uma fotografia de Ribalonga! Esta é a primeira, mas outras virão, porque esta aldeia é tão bonita como as restantes.
Neste fotografia sentimos o "cheirinho" de Maio e adivinha-se um viticultor que trata as suas videiras para que a colheita seja boa. Em Ribalonga costuma ser...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tapetes primaveris 2

Mais uma fotografia ilustrativa da Primavera, tirada em Zedes, em Maio de 2010.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Belver (2)

Rua em Belver (02-05-2010). Não sei ao certo o nome desta rua. A fotografia foi tirada no final da Rua da Atafona, já perto da Rua Marechal Gomes da Costa.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Tapetes primaveris

No Domingo passado, numa visita que fiz a Zedes fiquei fascinado com o tapete de flores amarelas que se espalha por muitos hectares. Toda a área que ardeu no Verão passado, que infelizmente foi muita, apresenta este aspecto, muito pouco usual e bastante bonito. Na zona do Barreiro, no cruzamento para Folgares, há zonas com autênticos tapetes primaveris.

domingo, 2 de maio de 2010

Marzagão - Nª Sª do Rosário

Passados 3 anos da minha primeira visita a Marzagão, voltei hoje, precisamente em dia de festa! Tal como na primeira visita, ainda eram visíveis alguns ramos de maias nas portas das casas, hábito ainda vivo no primeiro dia de Maio, para que traga fartura à casa e afaste todo o mal.
No primeiro Domingo de Maio festeja-se Nossa Senhora do Rosário. É uma das festas mais importantes da freguesia, juntamente com a festa ao padroeiro, S. João. O culto a Nª Sª do Rosário é muito antigo, data do início do Séc. XIII, mas o seu alastramento a toda a igreja católica deve ter acontecido no Séc. XVI com o Papa Gregório III. Assim se entende que no Séc. XVII existissem no concelho de Carrazeda de Ansiães 23 confrarias dedicadas a Nossa Senhora do Rosário, entre as quais a de Marzagão. Estas confrarias eram constituídas por grupos de paroquianos e tinham por objectivo dinamizar o culto, mas também praticar a caridade e apoiar a alma dos seus confrades para além da morte. A confraria de Santa Eufémia, da Lavandeira foi, sem dúvida, a maior que existiu no concelho, seguindo-se-lhe a de Nossa Senhora do Rosário, em Marzagão, com 12 mil irmãos espalhados por Trás-os-montes e Beiras. Estas confrarias funcionavam também como bancos emprestando dinheiro a juros. Quando o particular não conseguia pagar a confraria ficava com os seus bens. Desta forma o património das confrarias era constantemente aumentado. Como mostram as gravações nos portais de várias casas, a história do povoado está fortemente ligado à confraria.
Actualmente são poucas as confrarias que ainda se mantêm vivas. Porque se mantém a de Nossa Senhora do Rosário? A importância de Marzagão seguiu em sentido inverso à decadência de Ansiães (castelo). O número de irmãos, os elevados rendimentos e a importância dos mesmos, uma vez que muitos dos que pediam dinheiro emprestado eram de origem fidalga, e, penso que também tenha tido algum peso a importância do culto mariano em Portugal, fizeram com que esta confraria se tenha mantido até hoje.
A realização da festa foi também uma boa oportunidade para recordar o interior da igreja. Existe gravada numa pedra da parede lateral uma mensagem onde consta ao ano de 1575 como o ano da transladação da igreja de S. João Baptista do castelo de Ansiães para Marzagão. Informa também que a igreja foi reformulada no ano de 1765. Dos altares chama a atenção, como seria de esperar, aquele que é ocupado por Nossa Senhora do Rosário. Toda a nave da igreja está coberta de caixões pintados! São Muitos! Também a capela-mor está coberta com o mesmo género de caixões embora aqui, não sei se são mais antigos, as pinturas estão mais deteriorados. Há 99 no corpo do templo e 45 na capela-mor.
Havia quatro andores preparados para saírem na procissão, dois deles eram o de Nossa Senhora do Rosário e o de S. João.

Aproveitei o tempo de espera pelo início da Eucaristia para percorrer algumas ruas da aldeia começando pela rua de S. João Baptista. Tomei um café num espaço muito agradável, que desconhecia. A taberna que existia há bastantes anos atrás, está fechada.
Visitei também a capela de S. João. Quando eu conheci aquele espaço era um palheiro, por isso fiquei bastante satisfeito com o trabalho de recuperação que foi feito. Aqui encontrei alguns objectos de arte sacra e imagens de santos. Também aqui estava exposta uma antiga imagem de Nossa Senhora do Rosário. Num cartaz podia ler-se que os mantos da Senhora eram colocados sobre as mulheres prestes a dar à luz, na esperança de que com esse acto não haveria problemas no parto.

Regressei ao Largo da Igreja, estava prestes a começar a Eucaristia. Celebraram três sacerdotes, com a Banda Musical de S. João da Pesqueira a darem um colorido musical à festa religiosa. O sermão foi feito pelo Sr. Padre Bernardo, que foi pároco em Marzagão há algumas décadas atrás. Como este padre tem um gosto especial pela história, o sermão foi mais uma aula de história do que um apelo à fé. Gostei.
Às dezassete e trinta saiu a procissão que percorreu as principais ruas da aldeia.
Para a noite estava preparado um animado arraial.