Continuação de: À Descoberta de Zedes (1/3)
A poucos metros de distância da escola está a capela de S. Roque. A original, de 1611, foi ficando ao abandono até que não foi possível a sua recuperação. Nos finais do séc. XX foi desmantelada e reconstruida, perdendo a sua orientação original (virada para Poente), mas ganhando um novo enquadramento com a rua. O seu interior é muito sóbrio, sem qualquer altar. No séc. XVII existiu em Zedes a confraria de S. Roque. A veneração a este santo não terminou, a sua imagem encontra-se na igreja matriz e é uma das que integra as procissões nas grandes festas da aldeia.
No levantamento feito em 1758 o vigário Cosme Xavier descrevia Zedes assim: “A Paróquia está na borda de um prado que está cercado das casas do mesmo povo e fora destas tem mais duas ruas, uma a que chamam o cima da Chã, onde está também a capela de Santa Margarida e outra a que chamam do Galego, que tem no final uma capela da evocação de S. Roque”.
Deixando a capela de S. Roque entra-se na rua da Carreira, antiga rua do Galego. É uma das ruas mais antigas da aldeia, mas onde já não mora ninguém. Um pouco mais à frente encontra-se com a rua do Loureiro, guardada há décadas por um loureiro que deu nome à rua e sabor a muitos pratos que se confecionam na aldeia. Não muito distante, numa canelha que já deve ter sido um dos principais acessos à terra, está escondida uma centenária fonte, a fonte do Galego. Era uma estrutura muito grande, abaixo do nível do solo, coberta por lajes em granito. Oferecia algum perigo e, nos últimos tempos em que esteve à mostra, era local de despejo de lixo. Há muito que a Junta de Freguesia decidiu tapá-la canalizando a água para os tanques públicos, um pouco mais abaixo.
A rua do Loureiro conduz a um lugar conhecido pela designação de Cano! Não sei se a designação se deve à existência no local de uma fonte (que deve ter sido em tempos um simples cano). Esta água vem de um nascente num terreno mais acima, não sendo da rede pública. Existe no Cano, saliente na parede, um rosto talhado em granito. Tal como noutras freguesias, este rosto personifica a aldeia, sendo conhecido como o “Zedes”. Ouvi, em tempos, contar a história de que aldeia teria cinco entradas, cada uma com uma porta, que se fecharia durante a noite. Isto levar-nos-ia a pensar numa aldeia fechada, dentro de uma espécie de muro, o que me parece difícil dada a configuração das ruas, com braços que se estendem em diversas direções. Esta ideia foi passando de geração em geração, embora tenha pouco fundamento. A verdade é que existiam três destas “caras”, em três locais diferentes da aldeia. Duas ainda existem, a uma terceira, que se na rua da Oliveira, perdeu-se-lhe o rasto há relativamente pouco tempo. Eu cheguei a vê-la.
Continuando pela rua de Santa Margarida chega-se a um pequeno largo com uma bonita capela, de Santa Margarida. A capela é conhecida por este nome, mas o largo é mais conhecido por Cimo da Aldeia prenunciando-se Cima-D’Aldeia. Neste local há também um fontanário (e existiu, em tempos um comércio). A capela é pequena, mas é possível que tenha sido matriz. Nas traseiras da capela há dois blocos em pedra que foram retirados da frente da mesma. Estes blocos podem ter uma simbologia pagã, com ligação a alguma crença ou prática.
Há uma tradição muito antiga ligada ao culto de Santa Margarida. Quando se aproximava o momento de determinada mulher dar à luz, um familiar seu subia ao telhado da capela e virava uma telha ao contrário. Este simples gesto faria com que o parto corresse bem, com a ajuda da Santa venerada.
O interior da capela está limpo e o telhado foi refeito para impedir a infiltração de água. No entanto, a recuperação do altar nunca foi feita. Não tem qualquer amostra de tinta, percebendo-se de que deve ter sido um elegante altar em talha dourada. O elemento que mais me cativa na capela é a torre sineira, com elementos em relevo que fazem lembrar espíritos que voam.
Continuando para norte afastar-nos-íamos do centro da aldeia, em direção ao bairro do Carvalho ou à rua do Vale que dão depois acesso a Pereiros e Areias. O melhor é voltar para trás e descer à Portela.
Continua em: À Descoberta de Zedes (3/3)
5 comentários:
As coisas que tu sabes...Será que o nome SAntos é mesmo descente de Mouros que ali se refugiaram? Beijinho
Um lindo fontanário, onde as moças iam para encontrar os namorados...
Aníbal, deixe-me informá-lo de que o vigário de Zedes em 1758, que respondeu ao inquérito do Marquês de Pombal, não se chamava Cosme Xavier mas Cosme de Seixas, nascido em 1697 nas Areias, falecido e sepultado na Igreja de Zedes em 1777. Tenho o registo de nascimento e de óbito, que adquiri recentemente, pois era da minha família.
cumprimentos,
C. Mesquita
O autor do blogue tem razão quando fala de Gonçalo Moraes Pinto. Era de Zedes casado na Fontelonga, pai de Roza Moraes Pinto que era casada com Simão Moraes da Mesquita Menezes, mas residentes em Zedes e avô materno de Simão Pedro de Moraes da Mesquita Menezes(1732/1792), antepassados dos atuais proprietários da casa senhorial de Zedes.
C. Mesquita
O autor do blogue tem razão quando fala de Gonçalo Moraes Pinto, que em 1710 deveria viver em zedes, pois era daí natural. Casado na Fontelonga era pai de Dª Roza Moraes Pinto casada com Simão Moraes da Mesquita Menezes de Selores mas residentes em Zedes. Pais de Simão Pedro de Moraes da Mesquita Menezes(1732/1792), casou em Trevões com Dª Euphémea. Portanto, Gonçalo Moraes Pinto era seu avô materno. Todos são antepassados dos atuais proprietários da casa senhorial de Zedes.
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